sábado, 31 de julho de 2010

Nossa morte, na morte do touro

Nunca tinha ouvido falar de Ezio Flavio Bazzo, um senhor de cabelos e barbas brancas que escreveu um livro chamado A arte de cuspir (também escreveu outros), e que se apresenta: "Gosto de bisbilhotar a vida dos homens e das mulheres mais bem pagos do planeta. Isto me dá uma visão exata de quanto a terra ainda é um vasto e lúgubre prostíbulo. Sim, um prostíbulo com cinquenta ou sessenta putos cobertos de ouro e com milhões de panacas enterrados na merda..."

Nunca tinha ouvido falar até agora, quando recebo um email da Claudia Lulkin com um texto dele. Não gosto de algumas coisas: é preconceituoso, despreza. Mas ajuda a enxergar parte da estupidez humana.

A Claudinha, econutricionista vegana e educadora popular que tive a sorte de conhecer este ano, sabe que na morte do touro vai também a nossa: idiotas brincando de lança, sangue e morte. Por isso me entrega o texto, sabe que precisamos de palavras cortantes a se enfiar na carne dessas ideias imbecis que as pessoas reproduzem porque sempre foi assim e porque um dia alguém inventou que o assassinato de touros era cultura, e cultura se repete mesmo se for cruel, porque não é pra pensar, mas fazer e seguir matando e morrendo no prazer de ver a morte.

Finalmente proibiram as touradas na Catalunya

(para ler na íntegra o texto de Ezio, clique aqui)

... Domingo. Dezenove horas em ponto. As arquibancadas estão lotadas. Começam os rituais. O presidente dá o sinal de entrada. Vai iniciar o Primeiro Terço. Bandas, gritos, correrias, portões que se fecham. A troupe de matadores já se exibe na arena, um «não-sei-quê» de afeminado, com calças ridículas e apertadas que lhes salientam as nádegas e os genitais. Ainda não vi o touro, mas já torço por ele. Nas arquibancadas os vendedores de bebidas, chapéus, fotos de toureiros e de postais se apressam. Cada idiota puxa sua câmera fotográfica, seu binóculo, sua filmadora. É necessário registrar a espada enterrada no corpo do touro ou, por que não, os chifres do animal estraçalhando o corpo do toureiro. Sinto que desejaria imensamente assistir a uma tormenta de chifradas, de coices e de imprevistos. Penso involuntariamente em Apis, o touro sagrado dos egípcios. Quando um touro morria e era «entronizado» um novo, era dado às mulheres apenas um período de quarenta dias para visitá-lo. Durante essas visitas elas levantavam as roupas e lhe mostravam a vulva...

... Os dois mal encarados que me venderam os bilhetes na rua fumavam como loucos e pareciam ciganos. Os ciganos que Lorca, num surto lirico tanto elogiou em seu Romancero gitano.“El gitano es lo más elevado, lo más profundo, más aristocrático de mi país, lo más representativo de su modo y el que guarda el ascua, la sangre y el alfabeto de la verdad andaluza y universal..”.Verdade ou apenas a velha, frívola e conhecida tapeação dos intelectuais para com os fodidos e condenados da terra? Pelo menos os espanhóis de hoje, esse povo que até bem pouco tempo jogava gatos amarrados nas fogueiras de São João, não pensam e não sentem nada disso a respeito dos ciganos. Pelo contrário, se pudessem, os mandariam de volta para o país idílico e imaginário de onde vieram ou instalariam uma nova Treblinka para eles em algum rincão espanhol.

O portão é aberto e um touro mais preto que o azeviche entra em fúria, olhando para todos os lados, dando pequenos saltos como se fosse levantar vôo. Elege uma das bandeiras rosas e dispara contra ela. De seu nariz já escorre um líquido fumegante. Defeca, como se estivesse literalmente cagando para o mundo. Os toureiros se protegem atrás de paredes de cimento e de superstições... Ele ameaça enfiar os chifres no concreto, mas recua... Não é bobo. Os toureiros se exibem. Passos ensaiados para cá, passos ensaiados para lá. Parecem galos de briga depenados. O touro fecha os olhos e se lança sobre a capa vermelha. Não acha corpo algum. Derrapa na areia. Defeca. Dá uma rápida olhada para a platéia. Gritos. Silêncios. Cheiro de merda e de suor. O rabo para cima. Oitocentos quilos de ódio e de fel. A língua para fora. De sua pica escorre um jato de sêmen. Admiro-o por não ter vergonha de suas excrescências… Alguém das arquibancadas pede que o toureiro lhe corte as orelhas. La oreja... la oreja... la oreja...

... Nova investida. Os chifres passam a um milímetro das tripas do toureiro. Gritos. Assobios. Aplausos. Uma pequena interrupção para que entrem os dois cavalos, protegidos nas laterais por uma couraça e com vendas nos olhos. O touro se lança sobre um deles, enfia-lhe as duas aspas com tanta fúria que o levanta da areia. O cavaleiro, por sua vez, em seu exercício de crueldade, mete-lhe o arpão no pescoço e o cavalo permanece indiferente, como se não tivesse a mais mínima idéia daquilo que estava acontecendo. Torço cada vez mais para meu herói negro e solitário, mas percebo que já está entregue. Num novo assalto contra o cavalo caí de joelhos... Gritos, xingamentos... É evidente que para o touro esta é uma luta perdida. A organização do espetáculo não permitiria qualquer possibilidade de vitória para ele. Desfilar pela arena com o toureiro espetado nos chifres se esvaindo em sangue seria o fim. Soçobrariam os negócios, o sindicato dos toureiros e o pessoal dos Direitos Humanos iriam a ONU pedir providências. As poucas vezes que houve uma chifrada fatal foi mais por negligência da equipe do que por bravura do touro. Goya desenhou exaustivamente essa barbárie e Lorca a cantou em poemas e em prosa. Picasso e outros espanhóis, apesar do folclore cult que pesa sobre eles, não passaram imunes a esse costume sanguinolento. Rafael Guerra, conhecido por «Guerrita» organizou em 1896 uma espécie de tratado, em 5 vol. sobre a tauromaquia. E um tal de Pascual Millán, em 1888 escreveu em 258 páginas Escuela de tauromaquia de Sevilla y el toreo moderno, o que significa, em última instância, que essa loucura vem de longe.

O homem obeso, sentado ao meu lado, faz um esforço enorme para ver as horas em seu relógio de bolso. -Já se pasaron nueve minutos! Resmunga para si mesmo. E quando percebe que estou olhando para seu relógio acrescenta: un regalo de mi mujer. Disfarço o riso ao lembrar da frase de um gurú indiano que previnia: “nunca presenteie alguém com um relógio de bolso, porque isto simplesmente significa que você tem como certo que esse homem está acabado. O relógio é seu último presente e lhe servirá para saber quantas horas faltam para o sol se pôr...”



Acredito que já se foram outros nove minutos. Um dos matadores lhe crava



certeiramente duas «puyas», de onde, como de um vulcão, jorram dois jatos de sangue. Psicologicamente já está derrotado e a platéia pede agora que o matador cumpra seu papel metafísico. Outros dois dardos. Outros dois jatos de sangue. Um mugido que causa estremecimento na platéia. Os fotógrafos preparam as câmeras, as mulheres tapam os olhos, o toureiro coloca em cena os movimentos ensaiados por mais de mil vezes diante dos espelhos. Narcisista e vaidoso de merda! Prepara a espada. Para mexer com a histeria da platéia, dá as costas ao touro que treme estático. Não entendo por que não o ataca agora. Tem dois chifres mais eficientes que qualquer espada. Poderia acertar-lhe os rins, a coluna, os pulmões, as costelas e acabar de maneira trágica com este espetáculo. Mas não atua. Decepciona-me. Depois de tantos anos, talvez já haja uma submissão genética nesses animais, uma ética e, por que não, até mesmo um forte instinto de morte. (No sentido freudiano, de ser atraído pelo próprio fim, pela desconstrução de si mesmo, uma espécie de fascínio diante da possibilidade de «deixar de ser», de ver cada osso, cada órgão e cada célula desintegrar-se no nada, quase uma vingança contra o porvir, contra todas as esperanças e contra a vida.)

“Uma hora após a morte – escrevia o narigudo Bergerac, em La mort d’Agrippine -, nossa alma (a alma do touro) desfeita será o que foi uma hora antes da vida...”

A multidão suspira. Aquele homenzinho estúpido se coloca agora diante do animal com a espada na posição do ataque. O touro parece hipnotizado e disposto só a seguir às orientações do amo. Este lhe diz alguma coisa, obriga-o a atacá-lo pela última vez... O touro obedece e recebe no corpo exausto a estocada final. Um palmo de aço enfiado em seu dorso. Urra, corcoveia, defeca, olha para a platéia perde visivelmente a moral, toma consciência de que aquela era realmente sua última tarde de maio. Palmas, assovios, gozos secretos na platéia. Os sádicos se agitam, tagarelam, parecem exorcizar naquele ato os próprios crimes e as próprias culpas. Aquele corpo, uns dez quilos a menos, desaba. O toureiro levanta os braços, dá uma corridinha afeminada ao redor da arena, se exibe para a platéia. As mulheres atiram-lhe chapéus, «pañuelos blancos», flores, camisas e outros objetos que ele recolhe, dá um beijo e os lança de volta, ao léu. Esse frenesi feminino não parece ser para o «macho» como todo mundo sempre pensou, mas pelo que a platéia identifica que há de feminino e de cruel nele. Um açougueiro se aproxima do touro agonizante e lhe enfia várias vezes uma faca na nuca. É a apoteose, o consummatum est, «el momento profundo, sublime, y hasta diré casi sobrehumano, del sacrificio taurino». Em outras palavras: o momento de máxima crueldade.

"El hombre - segue Papini - debe matar los elementos taurinos que hay en él: la adoración de la fuerza muscular agresiva y de la fuerza erótica, igualmente agresiva".

A fanfarra reinicia sua marcha wagneriana, as arquibancadas se agitam e comemoram «la victoria de la virtud humana sobre el instinto bestial», enquanto entram na arena as três juntas de mulas cuja função é arrastar o cadáver pela porta dos fundos. E a mesma história se repete seis vezes. Sempre com touros andaluzes, pretos e da mesma raça transgênica, criados especificamente para esse fim. Deixei as arquibancadas com uma indignação contida e cantarolando a música (La corrida) de Francis Cabrel sobre a tremenda idiotice dessa exibição criminosa:

“... Si, si hombre, hombre / baila /”. Hay que bailar de nuevo / y mataremos otros / otras vidas, otros toros / Venga, venga a bailar...”

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Último round

Julio Cortázar escreveu em Último round sobre a sílaba viva, as notícias de maio de 68, o turismo pra ver a vida apodrecendo nas praças da Índia, sobre que todo homem é ao mesmo tempo seu sonho. Escreveu também sobre Os amantes :

Quem os vê andando pela cidade
se estão todos cegos?
Eles dão as mãos: algo fala
entre seus dedos, línguas doces
lambem a úmida palma, correm pelas falanges,
e lá em cima está a noite cheia de olhos.

São os amantes, sua ilha flutua à deriva
rumo a mortes de grama, rumo a portos
que se abrem entre lençóis.
Tudo se desarruma através deles,
tudo tem sua senha escamoteada;
mas eles nem mesmo sabem
que enquanto rolam em sua amarga areia
há uma pausa na obra do nada,
o tigre é um jardim que brinca.

Amanhece nas carroças de lixo,
começam a sair os cegos
o ministério abre suas portas.
Os amantes esgotados se olham e se tocam
outra vez antes de cheirarem o dia.
Já estão vestidos, já vão pela rua.
E é só então
quando estão mortos, quando estão vestidos,
que a cidade os recupera hipócrita
e lhes impõe os deveres cotidianos.

Povo que não esquece

O que vemos nas ruas de Buenos Aires são inúmeras manifestações contra uma história de opressão, censura e violência. O que se nota, também, são muitas manifestações em relação à política presente. Eles não esqueceram da sua história e da sua maneira continuam lutando...





Fotos: Têmis e Gustavo - Buenos aires, janeiro de 2010

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Kayapós

Estamos publicando novamente o vídeo dos kayapós no X Encontro de Culturas da Chapada dos Veadeiros, pois o anterior estava sem som.
Este é o ritual do peixe, onde as mulheres se preparam enquanto os homens comem o peixe e esperam o cacique dar a ordem para iniciar o ritual. Apenas com a entrada do cacique é que os homens podem começar apagando o fogo com os pés e ficam cantando até que as mulheres entrem. As mulheres só comem o peixe no fim do ritual, 4 horas depois dos homens.

domingo, 25 de julho de 2010

O super-herói triste contra o dono da calçada

O dia escuro tem uma cara triste, como a do garoto que arrasta os pés pela calçada. Choveu muito a noite passada, e hoje amanheceu invferno. Ele tem uma coberta aos pedaços sobre as costas, como se fosse a capa de um super-herói; bermuda acima dos joelhos e chinelo, como se fosse à praia ou como se uma parte do corpo não soubesse do frio, desse vento que rasga as plantas e grita nas placas da rua.

Esta rua tem dono? O segurança se aproxima, para em frente, gesticula, argumenta, aponta, impõe. Um minuto explicando que o local é proibido para gente mal vestida. O sem teto tem rumo, quer seguir. Responde com os olhos. Depois, ensaia passar correndo pelo trecho da calçada pública sob administração privada, mas perde as forças. Passo lento atrás de passo lento, atravessa os metros de chão que algum doutor mandou interromper para gente incômoda, como essas pessoas pobres que vagam por migalhas que as mantenham vivas, e vão aos trapos através do tempo.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Famílias do Jardim


Dia 10 de julho aconteceu no Ventre Livre a exposição de retratos fotográficos que encerrou o projeto Famílias do Jardim – Prêmio Interações Estéticas Residências artísticas em Pontos de Cultura 2009.

Entre dezembro de 2009 e maio de 2010, a equipe do projeto, composta pela artista proponente a fotógrafa Fernanda Rechenberg, Paula Biazus e o Coletivo Catarse, transformou o Ventre Livre num estúdio fotográfico aberto à comunidade da Vila Jardim e visitou diversos lares da Vila, registrando através de retratos familiares, essa comunidade da zona leste de Porto Alegre.

A Vila Jardim

O Bairro Vila Jardim localiza-se na zona norte de Porto Alegre e tem uma população estimada em 6.000 habitantes. A vila jardim é circundada por bairros de classe alta, denominado Chácara das Pedras, Jardim Europa e o Shopping Iguatemi. As mudanças no bairro acentuaram-se nas últimas décadas transformando-o em um território muito heterogêneo e singular. Em função das suas características geográficas, a maior parte da Vila Jardim está localizada em um nível mais elevado com relação ao restante da cidade, possibilitando imagens belas aos que frequentam suas ruas.

Conforme o ângulo que se olha, o horizonte da cidade se mistura com casebres, barracos, becos e mansões de alta classe, que retratam a desigualdade social inerente dos grandes centros urbanos. (do projeto original Famílias do Jardim)
Todo o material produzido – retratos de mais de 70 pessoas em estúdio, retratos de 10famílias e muitas horas em vídeo de todo o processo – foi transformado em catálogo fotográfico, documentário média-metragem e exposição fotográfica. O catálogo e o filme estão disponíveis para download ao final desta postagem e a partir de setembro a exposição irá circular entre Pontos de Cultura e espaços culturais na cidade.

Voltando ao dia 10!




Foi com muito orgulho e alegria que recebemos as famílias retratadas e seus vizinhos no espaço do Ventre Livre no dia 10 de julho. Curtimos os retratos grandes pendurados nas paredes, assistimos juntos ao documentário e nos emocionamos. Ficou um sentimento de construção coletiva. Cada um contribuindo e se doando para ser possível a materialização desta importante convivência.
O Famílias do Jardim escancarou as portas do Ventre Livre para toda a comunidade. O que esperamos é que elas permaneçam abertas e se torne cada vez mais a casa de todos na Vila Jardim.

Clique neste link para baixar o catálogo de fotos Famílias do Jardim.

Clique neste link para baixar o filme Famílias do Jardim.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Os Kayapós no encontro de culturas tradicionais

Vídeo da apresentação dos Kayapós no encontro de culturas tradicionais



Os Kayapó, ou Mebêngôkre, como preferem ser chamados, foram os responsáveis pelas atividades na Aldeia Multietinica, no encontro de culturas.

A Festa das Aves começa com o peixe e a tapioca. Alimento que Caciques, Guerreiros e crianças comem antes de dançar. "Agora vamos apagar aquele fogo com os pés, este é o momento mais perigoso da dança, pois alguém pode se queimar ou até morrer, mas precisamos pisar nas chamas para pegar o espírito", explicou Akyaboro, apontando para o fogo nas palhas.

Os rituais dos Mebengôkrê seguem uma organização peculiar. Algumas danças são apenas para homens, outras para mulheres (como é o caso da dança do Jabuti). Existem ainda as danças mistas, que podem acontecer com índios e não índios. "A dança da mandioca é igual carnaval, todo mundo pode participar", como explicou o Cacique Akyaboro.

De acordo com a tradição do grupo, cada vez uma família fica sendo a responsável por organizar as festividades. Durante a IV Aldeia Multiétinica foi a vez da família do Kayapó. Isaque, que contou com a ajuda do Cacique Ykaryrydjakray. A apresentação deste ano, teve a participação de cerca de 60 membros de três aldeias diferentes: Moikarakô, Kokraimoro e Ken pó.

O Cacique Akyaboro convidou os índios Paresi, Dessana e Guarani Kaiowá para apresentarem um pouco de suas culturas. Assim, etnia Paresi apresentou um ritual feito pela etnia na primeira menstruação das moças da Aldeia. Já os Dessana apresentaram uma dança de agradecimento pelas frutas. E finalmente os Guarani Kaiowá fizeram o ritual da festa do milho.

Mulheres de coca, Mulheres de pedra

O boi, a árvore e os Kaiowá Guarani

por Egon Heck, publicado no Brasil de Fato

A imagem marcante desses dias na imprensa do Mato Grosso do Sul é de centenas de cabeças de gado que morreu de frio, espalhados pelas fazendas na região do extremo sul do Mato Grosso do Sul, na fronteira com o Paraguai. Conforme dados da imprensa, chega a quase quatro mil cabeças de gado que morreram em função do clima frio, conjugado com outros fatores, dentre os quais a irresponsável devastação total das árvores e da mata atlântica e serrado. Ontem, um dos fazendeiros, dando-se conta do quanto tem sido equivocada e absurda a devastação da floresta, se dispôs a plantar árvores em sua fazenda! Triste sina de um pensamento hegemônico, capitalista, para o qual, árvore boa é árvore morta, o mesmo que se afirmava dos índios, os protetores seculares das matas e do meio ambiente.

Floresta morta, gado lascado

Fatos como o que estamos assistindo nesta região, são apenas a ponta do iceberg do que está por vir, caso se continue na trilha absurda da devastação, do envenenamento e morte das árvores, das águas e da terra. Apesar das claras evidências de que esse tipo de economia do agronegócio da monocultura e da acumulação rápida, a qualquer preço, esteja levando a mudanças climáticas acentuadas com enormes impactos sobre todos os sistemas de vida e sobrevivência ameaçada, nada parece conter essa lógica necrófila do capitalismo. Quando um dos técnicos foi dar seus sábios aconselhamentos de como enfrentar esse cenário apocalíptico da mortandade do gado, simplesmente conseguiu dizer o óbvio ululante: precisa ter árvores que contenham os ventos frios e sirvam de abrigo para os animais diante da agrura do tempo.

Quando os Kaiowá Guarani ficam tristes diante da constatação de que a maioria de suas terras que esperam ser demarcadas, são na sua sábia visão “terras mortas”, ou seja, sem árvores, apenas com capim ou expostas há dezenas de anos ao sol, chuvas e venenos. E o pior, são considerados preguiçosos e vadios quando deixam a natureza se recuperar minimamente em terras como Panambizinho, próximo a Dourados, que recuperaram no final da década de noventa.

Possivelmente as lições não serão aprendidas. Ao invés de se partir para um discussão séria sobre a recuperação ambiental, urgente e necessária na região, onde o índice de mata nativa em algumas regiões fica abaixo dos 5%, quando o mínimo exigido por lei seria de 20%, se passará a outras atividades produtivas do agronegócio, como o plantio de cana, soja...Ou, como já está ocorrendo, se transfere o gado para o calor tropical da Amazônia. Triste destino de um país, guiado apenas pela lógica da acumulação, do desenvolvimento acelerado e qualquer preço. Quem sabe, pelos menos nas escolas os professores ajudem os alunos a entenderem as causas reais desses fatos para que se possa caminhar para mudanças profundas na estrutura fundiária, meio ambiente e sistema de produção.

Anuncia-se que mais gado continuará morrendo em conseqüência de complicações decorrentes do frio intenso por que passaram, sem árvores para os protegerem do frio, do vento e do chuvisco. Enquanto isso os Kaiowá Guarani, em seus confinamentos e acampamentos além do frio, passam fome e seus territórios continuam sem demarcação.

Egon Heck - Campanha Povo Guarani Grande Povo, Dourados, inverno de 2010

terça-feira, 20 de julho de 2010

X Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros

O Coletivo Catarse está participando da equipe de cobertura colaborativa do X Encontro de Comunidades Tradicionais da Chapada dos Veadeiros. O encontro é organizado há dez anos pela Casa de Cultura Cavaleiro de Jorge - evoluiu a partir da experiência do Festival de Cultura da Vila de São Jorge (Alto Paraíso - GO), nascido em 1998.

Simultaneamente, diversas atividades culturais (Shows, Momentos Rituais, Oficinas, Prosas, Encontro de Capoeira e Feira de Oportunidades Sustentáveis), em diferentes espaços (Aldeia Multiétnica, Palco, Igreja, Espaço Dona Chiquinha e Seo Domingos, Casa de Cultura Cavaleiro de Jorge, Espaço Seo Tilu, Espaço Mamulengo, Escola, Galpão do Artesão e Raizama), propiciam,
pelos cinco sentidos, uma intensa apreensão e uma vivência profunda das riquezas da Chapada.

Além de integrar mais fortemente as expressões culturais da região, promove o intercâmbio dos locais com realidades similares nacionais (Santa Rosa dos Pretos/MA, Povo Kayapó/PA, Povo Krahô/TO, Ganhadeiras de Itapoã e Zambiapunga/BA, Maracatu Leão Coroado/PE, Violas de Cocho/MT, etc.) e com o que é produzido por artistas que atuam em áreas diversas e com diferentes linguagens - de projeção nacional e, até mesmo, internacional, mas sempre ligados à estética das culturas populares e tradicionais (Naná Vasconcelos, Hermeto Pascoal, Siba, Roberto Corrêa, Marlui Miranda, Cordel do Fogo Encantado, etc.).

O coletivo catarse realizará oficinas de produção audiovisual e autogestão com os índios que irão produzir um vídeo durante o encontro sobre a integração das 11 etnias durante os 7 dias na aldeia multiétnica.


Reportagem Sérgio Valentim - Coletivo Catarse
fotos Fabrizio Franco - comunicação encontro

Hoje: Assembleia Estadual Negra e Popular

Nem o Ouvidor da SEPPIR é Joaquim Nabuco, Nem Lula e Sarney são, respectivamente, a Princesa Isabel e o Conde D`Eu, nem o Senador Paim é, como vaticinou o velho historiador Décio Freitas, já falecido, um "Zumbi no Senado" se aproximando mais da figura trágica do tio do mesmo, Ganga Zumba, que fez um acordo espúrio com os representantes da Coroa Portuguesa, em detrimento dos Quilombolas Palmarinos, tampouco, o Estatuto da Igualdade Racial é a Lei Àurea do Século 21.
A História não se repete, a não ser como uma farsa.

Companheiros(as), segue nota pública da Frente Nacional em Defesa dos Territórios Quilombolas sobre a Sanção ao Estatuto dos Ruralistas (Dito da Igualdade Racial)

Hoje às 19h Assembléia Estadual Negra e Popular da Frente Nacional em Defesa dos Territórios Quilombolas no Quilombo dos Silva : Rua João Caetano 1170, Bairro Três Figueiras, Porto Alegre, RS. Próximo ao Colégio Anchieta.

Onir
GT-Quilombola MNU-RS


NOTA PÚBLICA

O ESTATUTO CONTRA O POVO NEGRO

A aprovação do Estatuto da Igualdade Racial por acôrdo do DEM, da SEPPIR(Secretaria de Promoção de Políticas para Igualdade Racial do Governo Federal) e de forças minoritários do Movimento Negro Brasileiro deixou um saldo negativo e um sentimento de derrota na maioria da militancia e entidades negras. Este sentimento trouxe para a cena, uma mobilização pelo NÃO SANCIONAMENTO do "ESTATUTO" pelo Presidente Lula.

Porém depois de uma lista com mais de 300 assinaturas, 178 entidades negras e populares encabeçadas pelo MNU ( Movimento Negro Unificado), CEN ( Coletivo de Entidades Negras), FONAJUNE ( Forum Nacional de JUVENTUDE NEGRA), Circulo Palmarino e pela CONAQ – Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Quilombolas, UNEAFRO, pedindo a retirada o estatuto do senado, observa-se agora, que o sentimento de repudio ao Estatuto aumentou AGLUTINOU EM TODO PAÍS ORGANIZAÇÕES HISTÓRICAS IMPORTANTES NA QUESTÃO RACIAL E POPULARES NO PAÍS COMO MST, TRIBUNAL POPULAR, E SINDICAL COMO INTERSINDICAL, CONLUTAS E FASUBRA, QUE SE RECUSAM A FESTEJAR O SANCIONAMENTO DESTE ESTATUTO PROMOVIDO PELO GOVERNO BRASILEIRO, NESTE 20 DE JULHO QUE FICARÁ MARCADO NA HISTÓRIA COMO DIA DO RETROCESSO DE 50 ANOS NA HISTÓRIA DE LUTA DO MOVIMENTO NEGRO BRASILEIRO.

A escalada de ataques as conquistas da população negra começou com as ADI contrarias as cotas, depois, com o uso do mesmo instrumento no STF, contraria a atual regulamentação ds terras quilombolas, por iniciativa dos ruralistas do DEM e do PMDB.
A aprovação do estatuto excluiu as cotas (serviço público, universidades e candidaturas nos partidos politicos, o direito a Reparação Indenizatória, os Direitos Quilombolas e os Avanços das Políticas de Saúde da População Negra); provocou um retrocesso em todas as reivindicações e conquistas do MN brasileiro nos ultimos 50 anos, com a descaracterização da nossa africanidade, da nossa herança negra, de responsabilização do escravismo como crime de lesa humanidade, e até de auto-reconhecimento da nossa negritude, com o proposito de apagar com um passe de mágica, 500 anos de historia nacional, e a participação de negras e negros.

A maior agressão sob o mando ou a conivência dos estados, tem sido o genocídio perpetrado contra a juventude negra, em todos os governos. O uso do DO APARATO ESTATAL como justificativa para os assassinatos de jovens e da população negra EM CONFRONTO POLICIAL, bem como o Golpe dos Ruralistas do DEM e do Governo serve para legitimar estes crimes, e tentar recolocar os negros, naquilo que eles julgam ser nosso lugar, longe das boas escolas, das universidades públicas, dos bons empregos, da representação política, fora do poder.

Por esse motivo ,conclamamos a Assembléia Negra e Popular e da Frente Nacional em Defesa dos Territórios Quilombolas , no dia 30 de junho em Brasília , que reuniu , 150 lideranças do MN e Quilombola , de Organizações Populares , Sindicais e deliberamos que estariamos fortalecndo este processo nos Estados e Regiões de forma Organizada. A Primeira Assembleia foi realizada na Bahia com Auditório da Universidade Católica da Lapa lotado de lideranças quilombolas que vieram das diversas regiões e das zonas de Conflito do Reconcavo Baiano , lideranças de Matriz Africana dos Terreiros que hoje assumem o Projeto Mulheres da Paz na BA, o segmento de Juventude Negras das Periferias da Cidade mais negra do país , organizaçoes importante como a CPP – Comissão Pastoral dos Pescadores da BA e a Steve Biko compuseram esta Frente além de setores sindicais importantes como a Secretaria de Combate ao Racismo da CUT BA e a Intersindical , sendo que CONLUTAS esteve presente em nossa Assembléia Nacional .

Hoje dia 20 JULHO estará se realizando na Cidade POA , a Assembléia Estadual do RS, no Quilombo da Família Silva , aglutinando os mesmos SETORES e outros organizados e articulados nacionalmente , O Quilombo Silva trata-se do I Quilombo Urbano titulado no País que se constitui na história dos Quilombos Urbanos , um marco político e do ordenamento jurídico que regulariza os Territórios Negros Urbanos que enfrentam nos grandes centros a violência do Mercado Imobiliários assim como os Quilombos Rurais enfrentam os Ruralistas organizados no País a exemplo do DEM e da ADI 3239 que tenta retirar os direitos quilombolas , garantidos constititucionalmente e através do Decreto 4887 , que se torna na conjuntura atual a ameaça aos Fazendeiros de justiça no campo e na cidade.

Apesar desta justiça estar muito longe da realidade , quando os numeros que vemos com relação questão quilombola principal força na base desta mobilização, secularmente protagonizando esta luta e tomando como referência a luta na base , com ocupações do Incra em vários estados, e mobilizações de massa como no RS combatendo e resistindo contra o descaso com a nossa causa e os ritmos extremamente lentos no que se refere a demarcação e titulação dos nossos territórios. Cabe ressaltar, o baixíssmo orçamento para as polít icas quilombolas e a execução destes orçamentos, com re cursos contingenciados e desviados para qualquer outra finalidade , menos para efetiva implementação das ações quilombolas , sobretudo no que se refere ao processo de Regularização Fundiária. Ainda neste tema , há praticamente cinco anos o INCRA , não utiliza integralmente o orçamento disponível para regularização das terras Quilombolas, a média anual de utilização não chega a 12% dos recursos disponíveis para estas ações. Tais fatos relatados anteriormente é que geraram a Portaria de Inquérito Civil Publico 991/2010, portaria esta aberta pelo Sexta Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal , para investigação das questões aqui relatadas. Este processo como um todo será pauta da Frente Nacional em Defesa dos Territórios Quilombolas junto a base das Comunidades Quilombolas organizadas no RS, SC, PR, RJ, SP, RO, PI, RN, MG, ES , BA, SE .

Assim acreditamos que para além da pauta quilombola, nossa luta estará fortalecida e fortalecendo os setores que se aglutinam aos Quilombolas neste País e que neste Estatuto aprovado pelo DEM e pelas do Governo Lula , seja no parlamento seja pelo principal órgão de Políticas de Promoção da Igualdade Racial foram extremamente vilipediados em seus direitos demarcamos nossa luta indicando três ações :
A Denuncia aos Organismos Internacionais dos Crimes de Lesa a Humanidade perpetrados contra a População Negra no Brasil pelo Estado Brasileiro com relação ao seguintes processos:
A ADI 3239 DO DEM CONTRA OS QUILOMBOLAS A SER JULGADA NO STF, QUE FERE A CONVENÇÃO 169 DA OIT.
CONTRA O GENOCÍDIO DOS JOVENS NEGROS pelo Aparato Estatal Policial
OS CRIMES DE INTOLERÂNCIA RELIGIOSA EXPRESSO NO ACORDO BRASIL VATICANO , QUE FERE CONSTITUCIONALMENTE O CARÁTER LAICO DO ESTADO
A DEFESA DE UM PROJETO DE INICIATIVA POPULAR QUE GARANTA UM PROGRAMA DE REPARAÇÃO HUMANITÁRIA DO POVO PARA O BRASIL
A CONSOLIDAÇÃO DA FRENTE COMO INSTRUMENTO DE LUTA AUTONÔMA E DE DIREITO NO PAÍS .

ASSEMBLÉIA NEGRA E POPULAR
FRENTE NEGRA NACIONAL EM DEFESA DOS TERRITÓRIOS QUILOMBOLAS

MU 36: Mirá al revés

Tierra del Fuego: El mundo desde abajo
¿Cómo viven los obreros de la era global? ¿Quiénes encabezan el ranking de la discriminación en la sociedad moderna? ¿De dónde salen los delincuentes? ¿Qué oculta el racismo cibernético? ¿Cómo se construye una casa sin dinero y quiénes erigen otro modelo de sociedad? ¿Cuál es el arte de estos tiempos? ¿Qué suena en la música y qué grita la calle? ¿Cómo escapar del aburrimiento? ¿Quiénes son los desaparecidos de hoy? Estos y otros enigmas zurcen esta recorrida por la isla que marca el fin del mundo y traza una cartografía diferente de la actualidad. Postales para sembrar preguntas, desarmar el mapa y poner las cosas en otro lugar.

MU 36 - clique aqui

Cooperativa de trabajo Renacer: Otra microonda
Una fábrica emblemática que resume la historia económica de las últimas décadas fue recuperada por trabajadores que desafiaron todos los pronósticos. Una trama que incluye piquetes a 14 grados bajo cero, mujeres de hierro y jueces conmovidos.

Bariloche: La furia y después
Tres muertos y varios heridos dejaron al descubierto la grieta social de una ciudad de cuento construida sobre una pesadilla. Tras la represión, amenazas y miedo habitan los barrios donde malviven aquellos que ya se consideran “los otros”.

Gastón Chillier, director del Cels: Cómo cambiar la mano
Considera que las políticas de mano dura son una estafa y un fracaso, que agravan los negocios policiales y el terrorismo de barrio. ¿Hay opciones? El caso Bariloche.

Iván Torres: El precio de la impunidad
La desaparición de un joven en Chubut se juzgará ante la Corte Interamericana de Derechos Humanos, por la inacción del gobierno, que ofreció pagar para olvidar.

Impa lanza su Universidad de los Trabajadores: Una fábrica de ideas
Vicente Zito Lema será el rector de este centro de estudios superiores abierto y gratuito. La primera lección es acerca de cómo obtener sillas: autogestión, arte y fiesta.

Sonia Budassi: Periodismo de ficción
Publicó en pocos meses dos libros que comparten un mismo universo: el periodístico. Así recrea a una cronista que persigue a Tévez o escapa del acoso de sus jefes.

Pepe Mateos, fotógrafo: Actitud Pepe
La foto de un adolescente orinando al batallón policial en Bariloche le devolvió estos días su nombre propio. Cómo es la batalla cotidiana de un obrero de la imagen.

Leo Ramos: La otra Resistencia
Es el encargado del Museo de Medios de la capital chaqueña y desde allí impulsa provocadoras intervenciones callejeras. Héroes, monumentos y otras irreverencias.

Culebrón Timbal: El agite barrial
Una docena de músicos le pone ritmo a la militancia social, inspirados por una tradicional poética inspirada en la magia del conurbano rebelde. Su fórmula la definen como un guiso que mezcla condimentos políticos y artísticos con sabor a cambio.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Da música que toca

Fiz uns passos sinceros, mas sem jeito sobre o palco, quando tocou Assanhado, do Jacob do Bandolim, numa versão da A cor do Som que eu descobri ainda garoto fuçando nos sebos de lps que existiam ali no viaduto da Borges. O Leonam, meu mestre naquele tempo em que eu achei que me formava jornalista, reconheceu o choro, cumprimentou sorrindo.

Meu pai, na década de 80, quando chegou o toca-discos lá em casa, educava meus ouvidos nos sambas e nos chorinhos. Pode ser daí, que eu tenha pego gosto pela poesia. A noite chegava sempre bebendo melodia, e minha alma pequena se enchia com o som de um clarinete ou uma cuíca.

Foi só agora há pouco, assintindo ao documentário Brasileirinho, que enxerguei Paulo Moura. Esta semana ele faleceu. Nos sites de música as homenagens uma atrás da outra. Paulo merece. Sua música era o próprio ar que atravessava procurando transcender o mundo:

quarta-feira, 14 de julho de 2010

O futuro pertence à juventude popular!

O projeto do capitalismo no Brasil é um projeto de morte. Morte dos sonhos, da dignidade, do futuro e da vida da juventude. Sozinhos não nos resta outro caminho senão a morte. Só um projeto de vida pode enfrentar o destino que a burguesia quer nos impor. Esse projeto de vida é de todo o povo brasileiro: um Projeto Popular para o Brasil.

Nos dias 9, 10 e 11 de julho de 2010 a juventude do Rio Grande do Sul ousou mais uma vez enfrentar os desafios colocados para a nossa geração. Num ano em que a burguesia só pensa na Copa e nas eleições, os mais de 400 jovens reunidos na Assembléia Popular da Juventude, em Santa Maria, mostraram que a unidade e a luta são a única forma de conquistar a liberdade.


O primeiro ato de rebeldia da juventude numa sociedade individualista é conviver em coletivo. Daí surge a experiência, a força para lutar e a dignidade. Jamais andaremos de cabeça baixa enquanto estivermos unidos.

Assim foi esse final de semana: 3 dias de convívio em espaços de organização, mística, formação, oficinas práticas, música, alegria e rebeldia. Jovens de diferentes movimentos sociais, grupos de Hip Hop, violeiros, grafiteiros de diversas cidades enxergaram-se como parte de um mesmo povo. Nesse grande encontro contamos ainda com a presença de companheiras que constroem a Assembléia Popular em Minas Gerais, conhecendo essa experiência de organização em outra região do Brasil.


Nesse processo, aprendemos que a luta é como uma semente plantada na nossa alma e na nossa história, que agora começa a brotar.

No Acampamento da Juventude Campo e Cidade, em janeiro, o nosso grande desafio era conseguirmos nos ver como jovens que defendem um mesmo projeto de futuro. O levante da juventude na defesa do meio ambiente e contra a venda do Morro Santa Teresa foi um dos frutos do Acampamento de janeiro. No primeiro semestre desse ano a juventude da Via Campesina também realizou mobilizações pelo interior do estado. Multiplicaram-se e cresceram as células de jovens em diversas cidades do estado para construir o Projeto Popular.


Agora constituímos a Assembleia Popular da Juventude do Rio Grande do Sul. Para isso fomos desafiados a superar identidades mais restritas e nos colocar à altura da nossa identificação com todo o povo, em todos os lugares onde está.

Daqui pra frente, o novo desafio será constituir as Assembléias Populares em todas as regiões e cidades: entre a vizinhança, no bairro, na escola, no assentamento, discutindo as pautas locais de luta e adquirindo nova energia; formar multiplicadores em cada lugar e constituir cursos para formar a nova geração de lutadores. Com certeza contaremos com muitas mãos para essa grande obra.

De passo em passo seguimos esse longo caminho. De cabeça erguida olhamos para o horizonte na certeza de que o futuro pertence à juventude popular!

Por Levante Popular da Juventude. Acesse o blog aqui.

domingo, 11 de julho de 2010

Sejam realistas: peçam o impossível

(na Faculdade de Letras, Paris, maio de 68)

Não fazemos outra coisa,
o impossível é o pão em cada boca,
uma justiça de olhos lúcidos,
uma terra sem lobos, um encontro
com cada fonte ao final do dia.
Somos realistas, companheiro, vamos
de mãos dadas do sonho à vigília.

sábado, 10 de julho de 2010

Hoje: Exposição de Retratos de Famílias da Vila Jardim

Aparece lá!


O Ponto de Cultura Ventre Livre e o Coletivo Catarse convidam a todos e todas para a Exposição Famílias do Jardim, da fotógrafa Fernanda Rechenberg. No dia 10 de julho (sab), às 16 horas, o Ventre Livre receberá os amigos para a abertura da exposição, lançamento do catálogo e do audiovisual do projeto Famílias do Jardim.

O Ventre Livre fica na Rua Galiléia, 220 (Bairro Vila Jardim).


O Ventre Livre foi transformado em um estúdio durante um fim de semana em que as pessoas da Vila Jardim puderam tirar retratos. Sozinho, com os amigos, com a família. Foram mais de 70 pessoas retratadas pela Fernanda. Cada um pode levar a lembrança desse dia para casa em uma fotografia revelada à moda antiga.

Durante os meses seguintes o Coletivo Catarse, Fernanda Rechenberg e Paula Biazus visitaram 10 lares, registrando o momento do encontro familiar. Foram dias de descobertas. Muitas histórias de vida, muita luta, alegria e sofrimento. Humanidade. Cada família recebeu seu retrato impresso – como tradicionalmente se faz a fotografia – para emoldurar, colocar na parede ou em álbum.

Mas as fotos também irão correr por aí: em uma exposição itinerante, que passará pelo Ventre Livre, Pontos de Cultura e Postos de Saúde que fazem parte da nossa rede, em um catálogo e um audiovisual sobre o processo.

“Mosaico de casas, pessoas e paisagens. Um lugar em que as crianças brincam na rua e são felizes. Terrenos ainda baldios, casas sofisticadas e fortificadas. Casas bem pintadas, casas de madeira, casas com puxado, casas com frestas, casas sem pátio, casas de duas peças, casas de uma janela só. Todas elas inscritas neste bairro desenhado em forma de círculos sobrepostos, de ruas e vielas e becos acolhendo uma diversidade, ora apaziguada, ora conflitante.” Fernanda Rechenberg

O Ventre Livre é um espaço aberto a experimentações e troca de saberes e que está em constante transformação. Nasceu para ser uma casa de cultura das famílias da Vila Jardim. E essa relação está sendo construída através de oficinas de foto na lata, sensibilização corporal para mulheres, audiovisual, grafite, teatro, música, além de espaços para os grupos Artebela (artesanato) e Amigos da Saúde (qualidade de vida).

“Do momento em que o projeto foi aprovado até a realização da primeira oficina foram nove meses. Foi o tempo que levou para o Ventre dar sua primeira cria. De lá para cá muita coisa mudou e vem mudando. Sempre com a presença da criançada, os vizinhos da Galiléia e a turma do Posto de Saúde. Como muitos dos que estão retratados neste livro, nós também encontramos um cantinho e um aconchego familiar na Vila Jardim.” Marcelo Cougo e Têmis Nicolaidis – Coord. do Ventre Livre.

O Ventre Livre é um Ponto de Cultura na interface entre cultura e saúde proposto pelo Coletivo Catarse, escrito em parceria com a atriz Maria Falkembach, e com a participação da Unidade Básica Divina Providência, integrando uma rede de 18 Pontos de Cultura e Saúde sob a responsabilidade do Grupo Hospitalar Conceição em Porto Alegre.


CONTATOS:

Ponto de Cultura Ventre Livre
Rua Galiléia, 220 - Vila Jardim - Porto Alegre
http://pontodeculturaventrelivre.blogspot.com

Catarse – Coletivo de Comunicação
51. 3012.5509
catarse@coletivocatarse.com.br
www.coletivocatarse.com.br

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Premiação ao desmatamento

Informacões do Centro de Estudos Ambientais

Em tempo de eleições majoritárias, é preciso estar atento para não votar em candidatos com a ficha suja de desmatamento, da destruição ambiental. Abaixo segue a lista daqueles que estão contra a coletividade.

por Juliana Sada

A reforma do Código Florestal foi aprovada nesta tarde por 13 votos a 5 na comissão especial da Câmara dos Deputados, presidida Moacir Micheletto (PMDB-PR) e que tem como relator Aldo Rebelo (PCdoB). A votação foi acompanhada por ruralistas e ambientalistas, protagonistas de diversas manifestações que interromperam a sessão.

Entre as questões mais polêmicas do relatório está o fim da reserva legal para propriedades de até quatro módulos fiscais (na Amazônia isso corresponde a 400 hectares), isto é, não serão obrigadas a manter uma porção de vegetação original conservada. Com a aprovação desta mudança, não é de se espantar que grandes proprietários fracionem suas propriedades para burlar a legislação. Esta movimentação já foi detectada em Araçatuba pela reportagem da Folha de S.Paulo.


Outra mudança na lei à favor daqueles que desrespeitam o meio ambiente é a anistia para quem cometeu crimes ambientais até junho de 2008, data da segunda regulamentação da Lei de Crimes Ambientais. O relatório de Rebelo também prevê a redução da faixa de mata ciliar (das margens dos rios) de 30 metros para 15m, em rios com curso de até cinco metros.

O discurso de Aldo Rebelo, aliado ao dos ruralistas, é o da proteção da soberania brasileira. Alegam que por trás das ONGs estrangeiras que atuam no Brasil, há o interesse de impedir o crescimento do setor agropecuário brasileiro por meio da limitação da terras cultiváveis. Seria este o real interesse das ONGs quando discursam à favor da preservação do meio ambiente.

O relator afirma ainda que as mudanças no Código Florestal atendem aos interesses do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra e de produtores rurais. De acordo com a Agência Câmara “o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) disse que não contesta a autoridade ou representação de entidades, mandatos ou personalidades, mas reivindica sua autoridade como representante do povo para falar em nome deles”. Entretanto, o MST e outros entidades representativas de trabalhadores rurais e camponeses assinaram um manifesto em repúdio ao relatório, alegando que este atende exclusivamente aos interesses dos ruralistas.

O substitutivo do Código Florestal deverá ainda passar pela Câmara, o que provavelmente ocorrerá apenas após as eleições de outubro.


Abaixo, a votação nominal ocorrida hoje:

Anselmo de Jesus (PT-RO) – SIM
Homero Pereira (PR-MT) – SIM
Luis Carlos Heinze (PP-RS) – SIM
Moacir Micheletto (PMDB-PR) – SIM
Paulo Piau (PPS-MG) – SIM
Valdir Colatto (PMDB-SC) – SIM
Hernandes Amorim (PTB-RO) – SIM
Marcos Montes (DEM-MG) – SIM
Moreira Mendes (PPS-RO) – SIM
Duarte Nogueira (PSDB-SP) – SIM
Aldo Rebelo (PCdoB-SP)- SIM
Reinhold Stephanes (PMDB-PR)- SIM
Eduardo Seabra (PTB-AP) – SIM

TOTAL A FAVOR: 13


Dr. Rosinha (PT-PR) – NÃO
Ricardo Tripoli (PSDB-SP) – NÃO
Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) – NÃO
Sarney Filho (PV-MA) – NÃO
Ivan Valente (PSOL-SP) – NÃO

TOTAL CONTRA: 5


REBELO, UM COMUNISTA CHINÊS

por Felipe Amaral*

A China é sem dúvida alguma, um dos países mais diversificados geograficamente, com uma beleza exótica sem igual, bem como um dos países mais extensos em demissões, além do fato de ser o mais populoso, com cerca de 1.35 bilhões de habitantes.


Mas a China tem uma cultura multifacetada, principalmente no que se refere aos contrastes entre os maiores centros urbanos e o interior rural. A história política da China é marcada por uma centralidade no poder imperial, mantida até 1911, através da tradição de casamentos e alianças entre dez grandes clãs ou dinastias, também é marcada por uma série de conflitos civis entre comunistas e nacionalistas. Com a queda do império, foi proclamada a República da China. Em 1949 o Partido Comunista Chinês assume o poder, e lança as bases para uma planificação econômica idealizada e conduzida por Mao Tsé-tunge. Depois de sua morte em 76, Deng Xiaoping, assume o poder e inicia o processo de abertura econômica da China, mantendo a política restrita a duas grandes organizações geopolíticas a República Popular da China, ou China Comunista, e a República da China, conhecida como Taiwan.

Esta breve introdução tem como objetivo apresentar uma das maiores potências mundiais do século 21. A abertura comercial possibilitou o crescimento das exportações, a participação ampliada e decisiva no mercado mundial, e acima de tudo, investimentos externos diretos. É o que podemos chamar de Capitalismo Chinês.

A China também é campeã em poluição ambiental, com sua matriz energética baseada na queima de carvão, e uma matriz industrial em vias de modernização, mas com um grande déficit em sistemas de controle e gestão ambiental em seu parque industrial. A economia chinesa cresce a passos largos, algo em terno de 9% ao ano, e proporcionalmente cresce a degradação ambiental, visto que as perdas em qualidade de vida e recursos naturais não entram na equação do Produto Interno Bruto.

Dados recentes apontam que as emissões chinesas de dióxido de carbono pelo uso de combustíveis fósseis subiram 9% em 2009, contrariando a tendência global de queda. As emissões chinesas de CO2 chegaram a 7,52 bilhões de toneladas no último ano. A China tornou-se o primeiro país na história a emitir mais de sete bilhões de toneladas de CO2 em um só ano, e se consolidou como maior emissor do mundo, depois de ultrapassar os Estados Unidos em 2008. Também não podemos esquecer que a China, pode ser considerada o Paraguai mundial, tendo em vista a comercialização de produtos baratos, de baixa qualidade e muitos falsificados.

Há poucos dias aqui no Brasil, o Depuptado Aldo Rebelo, do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), portanto um comunista, apresentou seu relatório sobre o Código Florestal Brasileiro. E as expectativas foram superadas, ou as piores possíveis, depois de uma série de declarações criminalizando a legislação ambiental brasileira, Rebelo, apresentou um documento que atende os interesses do grande capital do agronegócio e ao sistema especulativo fundiário. Como não poderia deixar de ser, Rebelo é um belo exemplo do comunismo capitalista. Ou seria ele um comunista oportunista?

Com as modificações propostas no Código Florestal, contidas no relatório de Rebelo, o Brasil pode dentre em breve assumir o posto de maior emissor de gazes do efeito estufa, visto que a reformulação do código acentua e facilita o regime de exploração e uso da terra, estimulando a degradação ambiental e devastação das floretas e áreas nativas. Hoje, o Brasil é o quinto país na lista dos maiores emissores de CO2, com cerca de 4% das emissões globais.

Este quadro é mais desolador quando se percebe que os países líderes na emissão de CO2, têm uma política de desenvolvimento baseada na industrialização, que embora poluidora e condenável, é uma atividade econômica com alto valor agregado. Aqui no Brasil esta posição se deve em grande parte aos elevados índices de desmatamento dos biomas nacionais, patrimônio dos brasileiros, patrimônio da humanidade. De acordo com o inventário brasileiro, 75% das emissões resultam do da prática do desmatamento de florestas e de outros usos inadequados da terra, especialmente para o agronegócio exportador.

A reformulação do Código Florestal, não está a serviço somente de setores ligados ao agronegócio, também busca atender interesses de setores que trabalham com infra-estrutura, construção civil, mercado imobiliário e da produção de bens e serviços que vêem na questão ambiental um empecilho para o acumulo de capital e muitas usam de maquiagem verde para associar suas marcar a boas iniciativas. Desta forma uma legislação mais branda, possibilita uma maior conectividade entre lucro e responsabilidade sócio-ambiental.

O que está por trás da proposta de reformulação do CFB, é exatamente a possibilidade de implementar o Pacto Federativo Descentralizado, onde cada Estado da União, tenha suas próprias leis ambientais, não sendo subordinada a legislação maior em âmbito Federal.

Mas o foco da ação articulada do agronegócio recai sobre a Reserva Legal. Hoje a Reserva Legal é a última fronteira da propriedade privada no país. É ali, naqueles 80%, 20%, dependendo do bioma, que está a guarda ou controle, mesmo que mínimo do Estado sobre a propriedade privada neste país. E é isto que incomoda o latifúndio da miséria. O controle efetivo do Estado sobre a propriedade privada.

A alteração do Código Florestal é na realidade uma tentativa estabelecer uma nova ordem fundiária nacional, em detrimento da geopolítica do agronegócio mundial.

O comunista Aldo Rebelo, é tão chinês quanto aquela quantidade de bugigangas e tralhas importadas. De má qualidade e só causa impacto ambiental.

*Ecólogo e coordenador do Instituto Biofilia.


CÓDIGO PODE ABRIR GUERRA AMBIENTAL

A possibilidade de uma guerra ambiental entre Estados, que poderiam disputar investimentos em troca de mais liberdade a desmatadores, é uma das consequências do projeto de mudança no Código Florestal, proposto pelo deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e em debate na Câmara. A advertência é da ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira.

A entrevista é de Marta Salomon e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 22-06-2010.

Eis a entrevista.

Há chance de o Código Florestal ser mantido do jeito que está?Acho que a lei atual tem problemas. E defendo o aperfeiçoamento do código, sim, mas com uma visão de natureza estratégica, e não só trabalhando passivos ambientais associados à agricultura.

A sra. crê ser possível recuperar a vegetação nativa do que foi desmatado de reserva legal e áreas de proteção permanente?A primeira versão do código é de 1965. O que havia antes deve ser entendido como situação consolidada. Claro que, num debate como esse, vou ter perdas. Há déficit de reserva legal pela lei atual, e terei de aceitar esse déficit, porque não é viável economicamente nem ambientalmente eu remover de topo de morro áreas consolidadas, por exemplo. É um fato, vamos lidar com isso. Senão eu também teria de remover as 350 mil pessoas que moram na favela da Rocinha e plantar vegetação nativa. É tão simples quanto isso.

Quanto desse passivo deve ser tratado não mais como passivo?Há plantações de café de mais de cem anos, claro que isso tem de ser considerado como situação consolidada. É diferente de uma pessoa que desmatou em dezembro de 2007 de forma ilegal. A proposta em debate coloca todos no mesmo patamar. Mas, se vamos ter um corte, então por que não adotar 2001, que foi a última mudança do código? Por que 2008, como propõe o deputado? Quem desmatou com a autorização do Estado não pode ser comparado com aquele que podia desmatar 20% e desmatou 100%. Esse, intencionalmente, feriu a lei.

O projeto como foi apresentado anistiará desmatadores?Ele sugere anistia. A estratégia do ministério é tentar romper essa polarização entre ambientalistas e ruralistas radicais.

Qual a consequência de desobrigar propriedades de até 4 módulos fiscais de preservar uma parcela dos imóveis, uma das principais propostas de Rebelo?
Vejo insuficiências técnicas na proposta do relator. O dano pode ser muito maior no médio prazo. Temos de dar tratamento diferenciado a propriedades menores e reconhecer que o que acontece na Amazônia é diferente da situação do Sul e do Sudeste, onde a grande concentração fundiária faz com que a área de imóveis abaixo de 4 módulos seja pequena, mas geograficamente concentrada no norte do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, sul de Minas Gerais, agreste e sertão nordestinos. Se o projeto extinguir reserva legal nessas áreas, vão se formar grandes polígonos sem proteção, exatamente nas áreas que foram expostas a sucessivos desmatamentos, comprometendo as reservas de recursos hídricos.

A moratória de cinco anos no desmatamento prevista pelo projeto é suficiente para o País cumprir as metas de redução das emissões de gases do aquecimento global?Temos milhões de hectares de áreas degradadas. É possível continuar trabalhando com desenvolvimento tecnológico e aumento de produtividade. Mas quem paga essa conta? Ela tem de ser discutida. E não é só com mercado de carbono que se equaciona isso. Na transição para o baixo carbono, o governo tem papel importante. A agricultura brasileira não pode ficar refém de barreiras que serão tratadas no futuro como barreiras não tarifárias. Temos muita gente boa, competente, produzindo de maneira sustentável e de acordo com a lei. E devemos fazer com que aqueles que estão fora da lei sejam colocados dentro da lei. A regularização ambiental é estratégica.

O relatório do deputado aponta as ONGs como peças de um movimento protecionista contra a agropecuária brasileira. O que a sra. diz sobre a atuação delas?
Eu trabalho com ONGs sérias, quer do movimento ambiental quer do movimento social, e não opino sobre questões ideológicas. Acho importante que o deputado possa levantar questões ideológicas. Mas nós temos parcerias sólidas, acho que é preciso separar o joio do trigo. Eu converso com todos, ambientalistas e ruralistas, é minha obrigação. Isso não é briga de dois grupos. Eu não admito a simplificação, eu não admito simplificar o Código Florestal à questão das pererecas e minhocas. Isso é inaceitável.

O que significa transferir para os Estados o poder de dizer o que é área consolidada do agronegócio e qual deve ser a área de proteção às margens dos rios, podendo ser reduzida a 7,5 m?O projeto veio sem estudos técnicos; é como se os rios nascessem todos com 30, 40, 50 m. Todo rio nasce pequeno e daí a importância de você preservar e proteger as matas ciliares onde você tem as nascentes. Não digo que não pode mexer, mas que não dá para fazer arbitrariamente. Os Estados têm competência de averbar reserva legal desde 98. E não chegam a 20% as propriedades averbadas no País. É competência dos Estados fazer zoneamento econômico ecológico. Outro aspecto: qual é a escala que trabalhamos, qual o custo disso, qual a tecnologia a ser usada, qual a base de informação comum? É um debate que não fica em menos de cinco anos.

Pode significar um “liberou geral”?Depende. Acho que a descentralização é importante, mas tem de ser acompanhada de condições para que isso aconteça, para evitar que se transforme em critério de competição entre os Estados. “Vem pra cá com seu investimento que sou menos rígido na legislação ambiental, vem pra cá que vou flexibilizar tal coisa.” Isso está na mesa.

A ideia é caminhar para um substitutivo?O caminho mais razoável não é empurrar com a barriga. O ministério é o primeiro a desejar uma lei de Código Florestal que possa ser cumprida. Mas não é no grito que você faz acordos dentro do Congresso.

Nossos comunistas e ecologistas são menos inteligentes que

Um bom debete gerado a partir da desastrosa reforma do código florestal:

NOSSOS COMUNISTAS SÃO MENOS INTELIGENTES QUE OS DOS OUTROS

No fim da década de 1990 uma série de enchentes e deslizamentos de terra catastróficos que mataram milhares de pessoas levou o Partido Comunista a encampar propostas que datavam de milhares de anos (estão, p. ex., no Livro do Tao). Sem ter que se preocupar com detalhes como debates democráticos e consultas públicas, os comunistas chineses proibiram a extração madeireira no país e deram gás ao maior projeto de plantio de árvores do planeta.


Essa decisão foi tomada apesar das centenas de milhares de empregos perdidos e foi certamente facilitada pelo fato de haver outras fontes de madeira. Sempre há países dispostos a vender seu patrimônio natural a preço de banana para que poucos privilegiados embolsem a verba e vão morar em algum lugar fashion enquanto deixam um leste do Pará para trás.

Aqui no Brasil, depois de ver os desastres em Santa Catarina, onde encostas cobertas por bananais vieram abaixo, em Minas Gerais, onde encostas peladas porquê florestas viraram carvão para alimentar siderúrgicas, e São Paulo, onde várzeas ocupadas para saldar dívidas sociais acabaram afogando a pobres e remediados, nosso maior expoente comunista, o alagoano Aldo Rebelo, propõe modificar o Código Florestal para permitir a ocupação de áreas ecologicamente frágeis e, na prática, facilitar o desmatamento.

Enquanto os pragmáticos capitalistas do PC chinês tomaram um choque de realidade, absorveram a lição e adotaram medidas dolorosas, mas necessárias, Aldo Rebelo e sua inusitada claque de ruralistas tentam ocultar a realidade com um bizarro discurso ideológico, propagando que apoiar o desmatamento e o perdão a quem nunca se preocupou com o cumprimento de leis é ser nacionalista, defendendo os interesses do Brasil Potência e nosso destino manifesto de líder mundial contra interesses perversos aqui representados por ONGs estrangeiras e um vasto leque de malfeitores.

O nacionalismo já foi famosamente descrito como o último recurso dos idiotas e vale lembrar que um famoso movimento nacionalista, o Verde-Amarelismo de Menotti Del Picchia e Guilherme de Almeida, também foi batizado por seus mentores de Escola da Anta. Com perdão ao perissodáctilo, talvez seja hora de ressuscitar o termo.

“A inclusão do nacionalismo nos debates sobre o Código Florestal é desalentador, ainda mais considerando como o nacionalismo justificou políticas desastrosas no Brasil, da destruição das ferrovias em prol das rodovias por um idiota que dizia que governar é abrir estradas.”



NOSSOS "ECOLOGISTAS" SÃO MENOS INTELIGENTES QUE

por Antonio Lisboa

Esta é a primeira vez que comento um artigo teu, pois, como gestor de um parque nacional na Amazônia, raramente me sobra tempo para ler “OEco”… mas não posso deixar de contribuir neste “debate” que vc está propondo.

O seu perfil diz que vc “é biólogo e doutor em zoologia” e “tem um pendor pela ornitologia e gosto pela relação entre ecologia, economia e antropologia”. Lendo o que vc escreveu, fico curioso em saber qual a sua formação em “antropologia” para poder discursar sobre sua relação com a ecologia.


Ser polêmico é um excelente instrumento para chamarmos a atenção para um debate necessário, sobretudo, num mundo governado por uma mídia alienante, que difunde um pensamento único (globalitário e mediocrizante), num país marcado pela total falta de cultura de debate de idéias (brasileiros preferem discutir as pessoas ao invés de discutir idéias!) e interesse intelectual.

Mas, é preciso entender que a polêmica, muitas vezes, pode resultar não apenas em maior audiência, mas também, numa excelente oportunidade de dizermos algumas verdades (como alguém disse há muito “entaladas na garganta”) e de se fazer cair algumas máscaras empoeiradas.

Isso foi o que ocorreu, por exemplo, quando o Tadeu Schmidt da Globo fez aquele editorial nefasto contra o técnico da seleção brasileira, e que acabou resultando na maior chuva de críticas que a Globo já recebeu até hoje, desmascarando uma emissora que sempre esteve a serviço da elite “global”.

Ler o teu artigo e ver a tua coragem em atacar, tão gratuitamente, duas correntes ideológicas associadas à esquerda brasileira e que, você deve saber, certamente têm muitos simpatizantes entre os seus leitores e do O-Eco, me fez lembrar aquele infeliz episódio, me despertando sentimentos parecidos…

Em seu artigo, vc afirma que “o nacionalismo já foi famosamente descrito como o último recurso dos idiotas”, também “batizado por seus mentores de Escola da Anta”, e que dos nacionalistas “nenhum merece respeito”… e destaca que “o nacionalismo justificou políticas desastrosas no Brasil, da destruição das ferrovias em prol das rodovias por um idiota”… Qual “idiota”? JK? “Idiota”..?

Bem… vamos aos fatos…
Primeiramente, nunca houve um governo verdadeiramente NACIONALISTA no Brasil.
Qdo Getúlio tentou, ao nacionalizar bancos e empresas estadunidenses, foi “suicidado”… A destruição das ferrovias pode ter sido tudo, menos “nacionalista”, pois serviu justamente aos interesses internacionais da indústria automobilística e petrolífera. Desde quando ser “nacionalista” no Brasil pode significar acabar com ferrovias? Que foi um erro do Jk, sem dúvidas foi, mas daí a dizer que ele era “nacionalista” e, pior ainda, um “idiota”, me parece muito menos inteligente ainda…

O nacionalismo, caro Fábio, NUNCA foi política de estado no Brasil, NUNCA! Qdo João Goulart tentou algo nesse sentido foi derrubado por um golpe de estado financiado pelo EUA e coordenado pela CIA. O que sempre houve nesses 500 anos de Brasil sempre foi um feudalismo escravista, substituído por um capitalismo selvagem no século XX e mais recentemente por um neoliberalismo destrutivo, agora com uma embalagem de social democracia.

Ao contrário, mesmo a esquerda brasileira, durante décadas, ignorou o nacionalismo em nome de um ”internacional-socialismo” marxista. Diferente do que vc afirma, o verdadeiro nacionalismo brasileiro é, inclusive, filho de estrangeiros, como o inestimável escritor austríaco STEFAN ZWEIG, conhecido por seu humanismo pacifista, autor do livro e da expressão “Brasil: País do Futuro”, cujo amor pelo Brasil era tanto que veio mesmo a morar no Brasil, em Petrópolis, onde acabou suicidando depois de assistir o carnaval…

Diferente do que vc sugere, o verdadeiro nacionalismo brasileiro não tem nada a ver com a bancada ruralista (sempre a serviço dos interesses estrangeiros da indústria de fertilizantes, agrotóxicos, transgênicos e tratores: Monsanto, Bayer etc.). Não, meu caro, o verdadeiro nacionalismo brasileiro é filho do sonho dos artistas, que tanto se opuseram aos radicalismos de direita e de esquerda, como no movimento TROPICALISTA, nos anos 60/70. E, diferente do que vc sugere, nunca foi pensado por “idiotas”, mas por gênios como David Byrne (que, em 1989, preferiu abrir mão de seu famoso grupo Talking Heads, para fazer e divulgar a música brasileira para o mundo). Que andam de bicicleta…

Entendo suas críticas ao dês-serviço que o Aldo Rebelo está promovendo para o futuro do Brasil com a destruição do Código Florestal, mas suas críticas ao nacionalismo e às ideologias de esquerda agridem a inteligência dos seus leitores, pois destorcem completamente a história política do país, ao tentar culpar justamente duas correntes ideológicas que NUNCA tiveram uma única chance de poder neste país. Se há um “culpado” este chama CAPITALISMO!

Quem está a destruir, roubar, poluir e aniquilar a vida e a liberdade no planeta é um sistema chamado CAPITALISMO. Este é quem vc deveria criticar.

“Comunismo” no Brasil nunca houve, a não ser durante os milhares de anos de história pré-colombiana, qdo imperava um comunismo primitivo indígena.

Aldo Rebelo pode ser tudo, menos “comunista”, é sim um desenvolvimentista a serviço de um projeto burguês neoliberal comandado pelo agrobusiness.

E qto a estarmos atentos na hora de votar, o que vc sugere? Onde vc quer chegar com suas críticas às ideologias de esquerda? Que votemos no Serra? Esse é o modelo democrático e moderno que vc pensa pro Brasil? Na Marina Silva, depois de seu enorme fracasso à frente do MMA? Seria nos candidatos dos partidos que votaram contra a proposta do Aldo (PT, PSOL e PV)?

Trabalho há anos em um parque nacional na Amazônia, e a imensa maioria dos estrangeiros que passaram por aqui dizem que o interesse internacional na Amazônia não é teoria da conspiração, não… eles sabem disso melhor que nós. Acredito na conservação, mas essa somente é possível se envolvermos as pessoas, as comunidades, se houver geração de renda, difusão de conhecimentos e tecnologia… coisas que o capitalismo não nos oferece. “Preservação” não se faz com passarinhos, mas com seres humanos.

Diferente do q vc pensa, ser NACIONALISTA no Brasil é acreditar na diversidade da vida, é construir floresta, é educar o povo, dividir a renda, a terra e a informação. É construir uma NAÇÃO libertária, tropical e democrática. “Idiota” (usando o mesmo termo que vc utilizou) é quem não enxerga isso.

Saudações verdes…
e amarelas!

Informacões do Centro de Estudos Ambientais

Exposição Famílias do Jardim

sábado, 3 de julho de 2010

Movimento pró-veto avalia Assembleia

por Afropress

Lideranças do Movimento Pró-Veto ao Estatuto da Igualdade Racial, aprovado pelo Senado, como parte de um acordo da SEPPIR com o senador Demóstenes Torres, do Partido Democratas (DEM), avaliam que a Assembléia Negra e Quilombola realizada em Brasília na última quarta-feira (30/06) foi um primeiro passo de uma luta de resistência das comunidades remanescentes de quilombos e em defesa da rejeição do Estatuto que consideram "um retrocesso" para a população negra.

Segundo o advogado, Onir Araújo, militante do MNU no Rio Grande do Sul e advogado do Quilombo dos Silva, o primeiro Quilombo urbano do Brasil, a ter suas terras regularizadas, em Porto Alegre, "o balanço é extremamente favorável".

Ele enfatizou ter sido essa "a primeira vez depois de muitos anos que ativistas do Movimento Negro e Quilombola foram à Brasília para um protesto às suas próprias custas e não com passagens bancadas pelo Governo".

Onir disse que 150 lideranças, a maior parte das quais quilombolas e lideranças dos movimentos sociais como o MST e o Tribunal Popular, participaram da mobilização e da Assembléia para pedir ao Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que vete o projeto do Estatuto da Igualdade Racial, aprovado pelo Senado.

As entidades que convocaram a Assembléia e que tentaram um encontro com o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Cesar Peluso, foram o Movimento Negro Unificado, o Coletivo de Entidades Negras (CEN), o Circulo Palmarino, a CONAQU, MST e a UNEAFRO/Brasil. Entre as lideranças presentes à manifestação estavam Milton Barbosa, Miltão, líder histórico do MNU, um dos fundadores do Movimento, em 1.978, Marcos Rezende, coordenador geral do Coletivo de Entidades Negras (CEN), e Douglas Belchior, do Conselho Geral da UNEAFRO/Brasil.

Audiência

No período da manhã, logo após a chegada à Brasília, eles protocolaram pedido de audiência ao presidente do Supremo Tribunal Federal. As entidades querem que – a exemplo do que aconteceu com as Cotas – o Supremo também promova Audiências Públicas antes do julgamento da ADI 3239, movida pelo Partido Democratas (DEM), que questiona o direito dos quilombolas às suas terras.


Assembleia

Na assembléia que aconteceu à tarde no Plenário Nereu Ramos da Câmara dos Deputados, as entidades, além de definirem a adesão a Frente Nacional em Defesa dos Territórios Quilombolas, aprovaram uma pauta propondo a resistência contra a ADI 3239, e a mobilização unificada visando o acompanhamento do julgamento, com a defesa da titulação e sustentabilidade dos territórios quilombolas.

A Assembléia também decidiu pedir audiência ao Presidente Lula para dizer a ele que há forte rejeição ao Estatuto aprovado. O advogado Humberto Adami, Ouvidor da SEPPIR e o secretário de Comunidades Tradicionais, Alexandro Reis, por determinação do ministro Elói Ferreira, compareceram para fazer a defesa do texto aprovado.

Ambos tiveram espaço para falar, porém, foram alertados de que, se tratava de uma Asembléia do Movimento Social, e que só falariam se permanecessem no plenário até o final da assembléia.

Segundo Onir Araújo, ativistas presentes à Assembléia queixaram-se de que Adami e Reis "tem a reiterada prática de vir em atividades do Movimento Social, se manifestar e ir embora logo após a manifestação não permanecendo para ouvir”.

Reis usou a palavra por 10 minutos e se retirou após a intervenção. Adami falou por 10, mesmo tendo a mesa dos trabalhos lhe concedido apenas três e fez a defesa do acordo com Demóstenes e do texto aprovado, enfatizando os “benefícios” do Estatuto para a população negra.

Foi questionado sobre que "benefícios", porém, manteve a defesa do Estatuto garantindo que se trata "de um avanço". Afropress não conseguiu localizar nem Adami, nem Reis para falar da participação de ambos na Assembléia.