Estréia no próximo dia 7 de novembro (terça-feira), às 19 horas, na sala P. F. Gastal da Usina do Gasômetro (Porto Alegre), a reportagem cinematográfica Kuaray do Sul (58 min / português / 2006).
Esta obra integra o Projeto Sepé Tiaraju – 250 anos, uma iniciativa de valorização da cultura milenar guarani e de mobilização popular pelo respeito aos povos indígenas. Com organização da Fundep – Região Celeiro e patrocínio do Ministério da Cultura e da Petrobras. A realização do filme é da Cooperativa Catarse – Coletivo de Comunicação. Contou com apoio da Via Campesina e do Centro Indigenista Missionário (CIMI).
A exibição será única e com ENTRADA GRATUITA, seguida de debate com a presença de representantes indígenas e dos movimentos sociais.
Kuaray do Sul está na seleção oficial da 11ª Mostra Internacional do Filme Etnográfico, que ocorrerá no Rio de Janeiro na segunda semana de novembro.
Sinopse
Um filme em busca do mito guarani Sepé Tiaraju junto aos movimentos populares. De como sua luz se manifesta na atualidade: no espírito, no coração e nas ações de pessoas simples.
250 anos depois, a luta por terra e dignidade ainda é a mesma: a realização da Assembléia Continental dos Povos Indígenas, em fevereiro de 2006, na cidade gaúcha de São Gabriel, antigo povoado de Batovi, nas Missões jesuíticas, que conseguiu reunir mais de 10 mil pessoas, entre índios guaranis (do Brasil, Paraguay e Argentina) e kaingangs, agricultores sem-terra, trabalhadores do campo e da cidade, comunidades quilombolas, a juventude de movimento. Lutadores. No mesmo local onde, em 1756, Sepé e seu povo morreram enfrentando a tirania do desenvolvimento cego do homem branco colonizador. O selvagem português. O selvagem espanhol.
Kuaray do Sul conta história de uma liderança verdadeira, que representa o sentimento de força do índio em seu modo de estar vivo até hoje. Apesar do massacre que se abateu sobre o povo guarani. Apesar dos 250 anos de uma tristeza que não se apaga. Porque nasce a cada dia para manter a resistência dos que têm o destino e o direito de serem indígenas.
Batalha por terra e liberdade. São as falas deste filme.
Ficha Técnica:
(Direção coletiva)
Fotografia: André de Oliveira / Entrevistas: Jefferson Pinheiro / Som Direto: Rafael Corrêa
Edição: Jefferson Pinheiro e André de Oliveira / Montagem: Julia Aguiar
Contatos:
André de Oliveira - 51-9665.9295
Jefferson Pinheiro - 51-9835.9760
Catarse - Coletivo de Comunicação - 51-3012.5509
sexta-feira, 3 de novembro de 2006
Kuaray do Sul
segunda-feira, 16 de outubro de 2006
Rafael lança em livro Artur, o arteiro
O catársico Rafael está lançando seu primeiro livro de quadrinhos. Não é a toa que quem conhece seu trabalho o admira. Leiam o que o Edgar Vasques (autor do Rango) escreveu sobre ele no prefácio:
"Rafael tem toda a ferramenta do grande cartunista: o desenho limpo e expressivo, simples (sem ser pobre) que veicula a verve reflexiva e falsamente ingênua das piadas ferinas. Isso o leitor descobre imediatamente no Artur e companhia. Mas tem mais: Rafa é jornalista, editor e visionário. Ainda na faculdade, foi um dos criadores do Bodoque, um zine diferenciado, cujas idéias desembocaram, com coerência e coragem, numa bem-sucedida experiência alternativa de jornalismo e ativismo cultural, que ele vem tocando com seus companheiros. Essa visão jornalística, abrangente e crítica, também está presente na historieta, que se inspira na infância (anos 80) do autor. E, sendo esse autor o multi-Rafa, podemos dizer, sem dúvida e sem trocadilho: essa “infância” é apenas o começo."
Quê: Lançamento do livro Artur, o arteiro
Quem: Rafael Corrêa
Quando: 23 de outubro, seugunda-feira, às 20hs
Onde: Botequim Carioca (Rua Dr. Timóteo, 846, Porto Alegre)
Um exemplar, um abraço e um autógrafo = 10 pilas
terça-feira, 10 de outubro de 2006
Usuários do GAPA/RS lançam jornal sobre HIV/AIDS
O GAPA/RS – Grupo de Apoio à Prevenção da AIDS do Rio Grande do Sul está lançando a primeira edição do jornal Mais Expressão de Vida. Escrito por pessoas que vivem e convivem com HIV/AIDS, o principal objetivo do projeto é ampliar a informação sobre o tema e sensibilizar as pessoas atingidas pela epidemia da AIDS para a adoção de atitudes positivas. Mas também estimular o protagonismo dos usuários da ONG, qualificando-os para atuarem como multiplicadores de hábitos, informações e atitudes relativas à epidemia, tornando-os sujeitos ativos na luta por direitos e construção da cidadania.
Catarse promove oficinas de comunicação
Em encontros semanais, o grupo recebe orientação de jornalistas da Catarse sobre produção de textos e fotos, debate sobre assuntos relacionados ao HIV/AIDS, escolhe as pautas e realiza entrevistas. O principal diferencial deste jornal é justamente ser escrito por quem conhece por dentro a realidade de viver e conviver com HIV/AIDS, e isso se expressa nos textos. Cada edição conta com um encarte especial produzido por populações específicas, falando sobre suas particularidades. Neste primeiro número foi abordada a situação das travestis.
A distribuição dos exemplares
O jornal é distribuído gratuitamente pelos próprios autores das matérias em locais onde a população busca informação ou atendimento para HIV/AIDS, como nas salas de espera nos Serviços de Saúde ou em outras ONGs.
A Catarse também é responsável pelo projeto gráfico, diagramação e edição do jornal.
Contatos para entrevistas e debates:
GAPA/RS - Fone: 3221.6363 - E-mail: gapars@terra.com.br
Coordenadora do projeto: Grazielly Giovelli
Assessoria de imprensa: Catarse – Coletivo de Comunicação
F: 3012.5509
Reedição de vídeo sobre trocas solidárias
A Kindernothilfe (KNH) reeditou com a Catarse o vídeo Moeda Social – As trocas solidárias como instrumento para o desenvolvimento do fluxo econômico local.
O vídeo é um apanhado de matérias veiculadas nos meios de comunicação, nesses últimos anos, sobre os clubes de troca solidária em atividade no Rio Grande do Sul. Para a KNH, responsável por atividades de multiplicação da metodologia para a formação de clubes de troca, o objetivo do vídeo é estimular entidades e comunidades a adotarem esta idéia que há alguns anos vem crescendo na Região Sul do Brasil.
terça-feira, 5 de setembro de 2006
Catarse finaliza reportagem cinematográfica sobre Sepé e a luta por terra pelos movimentos sociais
Kuaray do Sul é uma reportagem cinematográfica de 55 minutos produzida pela Catarse a partir da Assembléia Continental Guarani – 250 Anos de Sepé Tiaraju (http://www.projetosepetiaraju.org.br/), ocorrida em fevereiro de 2006 em São Gabriel/RS.
O audiovisual está pronto e deve ser lançado em breve. Foi contratado pela Via Campesina e teve financiamento da Fundep – Fundação de Desenvolvimento, Educação e Pesquisa da Região Celeiro.
Depoimento de líder kaiowá
A Catarse publica aqui trecho de uma fala da professora guerreira, índia da comunidade Kaiowá Guarani (MS), Léia, seu nome. Foi pronunciada durante os dias do encontro, que reuniu indígenas do Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
Numa das noites, ocorreu a exibição de um documentário (da equipe do Centro de Mídia Independente de Goiânia) sobre a expulsão dos kaiowás de Nhanderu Marangatu, sua terra ancestral, em operação da Polícia Federal, seguindo determinação do, então, ministro do Supremo Tribunal Federal, Nélson Jobim, de dezembro de 2005.
As cenas de violência e intimidação do poder de Estado impressionam. A força das imagens entristeciam, machucavam e atordoavam os pensamentos dos que tem ainda a sensibilidade de se perguntar como pode o branco não parar nunca de destruir a vida dos índios.
Léia foi convidada para comentar a situação no local, as repercussões da expulsão, com o assassinato de seu irmão de povoado, Dorvalino, após tomar 3 tiros de um segurança contratado pelo fazendeiro que tomou posse das terras. Dorvalino havia entrado na área que era de sua comunidade para colher mandioca, que ele próprio e seus irmãos haviam plantado para servir de alimento à comunidade. Algumas crianças, na beira da estrada há oito dias, estavam em processo de desnutrição.
E Léia falou:
- A gente já sabia que tudo isso ia acontecer. Y para isso não acontecer, a gente tentou sair pacificamente, por que se a gente resistisse, ali, dentro da nossa casa, dizendo que nós não íamos sair, que a gente ia permanecer, a gente ia perder muito mais pessoas. E para não perder nenhum pai, nenhuma mãe... Que as mulheres elas são muito mais corajosas, elas enfrentam os coisas mais de frente. Y quando vai falar ou se segura. Então tudo isso a gente pensou... y a gente pensou sair, assim, pacificamente. Mas mesmo assim a gente passou um sufoco, com a chegada da polícia, tudo. Y o que mais doeu com a gente, na comunidade inteira, foi o que aconteceu, com a morte do Dorvalino... Pra que a gente não perdesse... A gente não estava esperando mais, já eram mais de 8 dias que nós estávamos ali, no meio do caminho, ali, perto da rodovia, passando todos os problemas e as dificuldades... Y o sofrimento era incomparável. Y mesmo assim os fazendeiros não tiveram a tranqüilidade de ver a gente ali, com nosso sofrimento... Eles queriam ver mais sofrimento ainda na gente... Y mataram o Dorvalino ali, onde ele estava inseguro, né? – por que indefeso, ele não estava esperando esse tipo de coisa. Y acabaram matando ele ali, tirando a vida dele, assim, sem ele poder se defender. Então foi uma coisa assim que, como diz o Anastácio, cada um de nós está mesmo para morrer. Y a gente vai perdendo a nossa vida assim, lutando pela terra... Y como já estamos aqui também lembrando da morte do Sepé... Nós que somos liderança de coração, de sangue, de luta, que luta, realmente, para vencer e ver vitória futura, mesmo que não seja agora... Aqueles líderes que dizem: eu sou líder, eu vou lutar, chegarei até o fim. Y nós que pensamos na gente, de dizer, que se sentimos como liderança... Quero dizer para isso para todas as lideranças que se consideram líder indígena, aqui, agora, é... que sintam isso de coração, de lutar pelos interesses da sua comunidade, pelos interesses dos povos que você quer que sejam vitoriosos e não do seu interesse. Por que lutar por terra não é um interesse de um líder, mas interesse de comunidade, de um povo resistente que, até agora, mesmo a gente sabendo que morreram várias pessoas, vários líderes, como o Sepé... Talvez antes do Sepé houveram vários outros que morreram sempre na luta. Tivemos... Eu não sei se existe outros guarani que já morreram... Eu vou citar os nomes de líderes indígenas que já morreram na luta por interesse do povo e não pelo seu interesse. Como Marçal de Souza, que gritava e dizia: não somos animais, para vocês nos massacrarem e tirarem nossos direitos, queremos justiça. Naquela época o Marçal já gritava: queremos a justiça e até agora a gente não teve justiça. Com certeza, todos os líderes que já morreram gritaram à justiça, mas para nós, indígena, nunca tiveram justiça. Nunca. Até agora eu não vejo e não ouço dizer que existe justiça para as coisas que acontecem contra indígena. Nós já perdemos aqui, dos nossos guarani, vários líderes. As outras etnias também já perderam vários líderes, como o Xicão Xucurú y os outros. Y a gente tem que estar sempre firme. Eu não me sinto um líder, não posso dizer que eu sou um líder, mas eu quero ser. Y sinto que o povo precisa de cada um de nós que estamos aqui. Que o nosso povo precisa da gente. Se nós estamos dizendo, aqui agora, representando o povo guarani, temos que ser representante em tudo. Até mesmo lutando até a morte, como o Sepé, por que as pessoas que estão contra a gente não procuram aquelas pessoas que estão lá, na comunidade, procuram o líder. E para ser líder tem que ter coração. E se não tiver coração jamais será líder. Temos que ter coração. Yandé!
Em seguida, Léia continuou seu discurso, agora falando em guarani, por mais 25 min. Até agora, este branco que vos escreve não conseguiu traduzir a fala para português, não entende nada de guarani. Desculpas. Principalmente, à Léia.
As últimas informações que chegam de Nhanderu Marangatu dão conta de que no final de semana de 31 de março à 2 de abril, dois policiais foram mortos pelos índios kaiowás. Invadiram a acampamento improvisado de beira de estrada, dano tiros para o alto. Iriam investigar a denúncia de que integrantes desta etnia iniciaram um processo de ocupação em um terreno localizado em uma localidade conhecida como Porto Cambira. Outra versão diz que os policiais invadiram o acampamento na busca de um foragido da polícia, sem qualquer vínculo com os índios.
Reportagem publicada no Diário Vermelho diz: “é considerável o ambiente de revolta entre os guarani-kaiowá. Expulsos de suas terras, forçados a viver ao lado de um poço d'água contaminada, junto com os animais de propriedade do fazendeiro que cercou a região onde viviam seus ancestrais, há milênios, e diante da morte e da doença dos últimos remanescentes de uma nação, a figura da autoridade policial é hoje um estigma entre os moradores do acampamento”.
Seis kaiowás foram detidos. Existem outros índios foragidos. A comunidade em pânico. É a vida de bicho dos tristes Kaiowás.
Veja o blog do filme em www.kuaraydosul.blogspot.com.
* Foto de Daniel Cassol.
segunda-feira, 30 de janeiro de 2006
Uma história de índio contada por índio: de assassínio e resistência
Jefferson Pinheiro
Houve um tempo no Brasil, que índios foram mortos pra servir de comida aos cães. Foi no interior de Minas Gerais, na região do Vale do Rio Doce. A Corte Portuguesa queria botar a mão nos minérios daquela área. Em decreto, mandou dizer que qualquer “obstáculo ao progresso” devia ser eliminado. Aquela medida, hoje, é lida como uma carta de guerra aos indígenas. Na verdade, uma permissão oficial para o extermínio.
Ali, o primeiro contato entre os colonizadores e os índios se deu em 1850, mas somente com a abertura da Estrada de Ferro Vitória-Minas, construída entre 1905 e 1911, foi que os brancos invadiram a região. Uma parte dos Borum tentaram resistir e: - massacre! Outra, como tática de sobrevivência, preferiu o caminho da assimilação, misturando seu sangue com o dos invasores e trocando a mata pela cidade – um processo de aculturação tão contundente que os filhos desta união não conseguem se enxergar como índios. Um terceiro grupo reagiu ao perigo do confronto recuando na floresta até o seu limite, quando então o governo resolveu fundar um aldeamento (os aldeamentos não serviam para proteger os indígenas ou garantir-lhe terras, mas para confiná-los num espaço conveniente às forças políticas e aos interesses econômicos). Ainda assim, o SPI (Serviço de “Proteção” ao Índio) arrendou a área aos agricultores, que exploravam os Borum como mão de obra escrava. Acreditavam (será?) os senhores de terno que o aprendizado nas lidas da enxada e do arado seriam um estágio benéfico aos indígenas. Estes, em homenagem a um de seus líderes que pensava o contrário, passaram a se chamar Krenak.
Então, na década de 50, os homens de colarinho resolveram construir uma prisão só para os índios, como forma de dar um corretivo nos rebeldes que não estavam dispostos a passar pelo processo de qualificação profissional imposto ou dividir as suas terras com os colonos. O lugar passou a ser muito freqüentado pelas lideranças indígenas e os krenak foram proibidos de falar a sua língua dentro das próprias casas.
Chegou o período da ditadura e os fardados milicos indicaram um interventor para o estado de Minas, que resolveu simplificar o conflito. Saqueou as terras que pertenciam aos krenak (mesmo que o assunto fosse de competência federal) e presenteou-as aos agricultores. Os índios foram distribuídos para outras tribos ou abandonados nas cidades próximas.
Pois bem, e as mulheres? Foram elas e as crianças remanescentes – já não havia mais homens adultos – que na década de 90 rumaram por dias a pé de volta pra casa e conquistando o apoio de parte da opinião pública, resgataram em 1996 o que os brancos haviam lhes roubado: o lugar original de viver.
Foram elas também, que no encontro com o útero fecundo da mãe-terra, e determinadas a não mais serem violentadas em seus direitos, iniciaram o processo dos krenak de se apropriarem do estudo formal. Hoje, todo jovem krenak em idade universitária está cursando a faculdade.
Esta história foi contada no Fórum Internacional Povos Indígenas em agosto de 2005, na PUC, em Porto Alegre, por Jaider Batista da Silva, Reitor do IPA Metodista. Descendente do povo krenak, junto com sua mãe e outros de mesmo sangue, construíram um grupo de solidariedade que propiciou apoio e infra-estrutura para os indígenas cursarem a universidade. Estes jovens continuam morando na aldeia e preservando a cultura, mas o povo krenak adquiriu autonomia e hoje é ele quem decide até onde os brancos podem ir nas trocas que estabelecem.
Jaider lembra que a universidade domina o aprender a aprender e o aprender a ensinar – conhecimentos diferentes da sabedoria. Neste espaço são os índios que trafegam com maior naturalidade, contribuindo muito para o aprender a ser.
Este texto não é uma fábula, portanto, não precisaria ter uma mensagem como desfecho, mas, se o Reitor quis lembrar Paulo Freire, por que eu o excluiria desta história!?: “Não importa o que fizeram de nós. O que importa é o que fazemos com o que fizeram de nós”.
Os krenak chegaram a ser considerados extintos. Hoje, são 300 pessoas.
Brilho Eterno de uma Gente com Esperança
Gustavo Türck
Como seria bom manipular nossas mentes para apagarmos aquilo que incomoda. Nesse mundo em que parece cada vez mais difícil a participação das pessoas nos processos de mudança, às vezes aquela fuga pela esquerda – sem neologismos aqui – parece ser a melhor alternativa para se sobreviver com sanidade.
Pois bem, estamos em um consultório e vamos, através do milagre da associação lingüística, iniciar o procedimento de saneamento mental. O Doutor diz: “Não tenha medo, apenas fale aquilo que queres apagar de sua memória. Temos um equipamento de última tecnologia que mapeia o caminho dessas associações através da construção dos signos e significados dentro da mente. Para cada palavra existe um impulso elétrico específico que representa esta mesma palavra e o seu signo respectivo. Porque todo o processo de construção da linguagem está associado ao fato de observarmos certo acontecimento e o associarmos a uma palavra, uma imagem, seja objetivo e concreto, ou simplesmente subjetivo. Podemos, através dessa tecnologia, inclusive, acabar com conceitos distorcidos e construídos totalmente através de associações arbitrárias vindo de fontes duvidosas. São expressões como: verdade dos fatos, liberdade de imprensa, terrorismo, opinião pública, bom senso, entre outras. Na realidade, isso que estamos fazendo não seria bem apagar a memória, mas limpá-la para que seja possível uma nova oportunidade de construção de significâncias”. Começa logo essa porra! “Calma! Não se esqueça, o processo somente estará terminado depois que essa sensação de sequidão na boca cessar...”.
E, então, você começa:
Bush, Afeganistão, Iraque, mísseis, USA, assassinato, terrorismo, mortes, mentira.
Dinheiro, mortes, Coca-Cola, McDonald`s, câncer, ataque cardíaco, Colômbia, cocaína, tráfico, polícia.
Golpe, capital estrangeiro, grande imprensa, mídia, novelas, Globo, aculturação, Veja, falso jornalismo, difamação, calúnia.
Mentira, Istoé, Época, cinema nacional enlatado, Xuxa, Angélica, Tchan, prostituição infantil, manchete, Zero Hora.
Rigotto, FARSUL, agronegócio, Dorothy, madeireiros, garimpeiros, MST, Pará, assassinato, Sperotto, PFL, PSDB, PP, soja, transgênico, câncer.
Desocupação, morte, Goiânia, Pará, Carajás, agronegócio, colheitadeira, soja, transgênico, destruição florestal, seca, exploração, assassinato.
ACM, neto, FHC, PSDB, PFL, PP, privatizações, bilhões, milhões, precatórios, mercado, dólar, bancos, lucro.
Ódio, bilhões, Valério, Dantas, Barbalho, Magalhães, Cardoso, Delúbio, Dirceu, Genoíno, pasta rosa, Mello, salário mínimo, direita, CPI.
Mentira, Veja, impeachment, PT, Lula...
Termina. Você acorda e sua cabeça está leve, mas o Doutor alerta: ”Agora é que se inicia o verdadeiro processo de re-significação”. Putz! “Entenda o seu processo cognitivo, tome decisões, constitua sua opinião analisando fatos, assimilando visões, pontos-de-vista e, então, conclua!”. Putz, de novo!
O homem passou pela era da imprensa escrita, entrou no rádio, mergulhou na da TV e, agora, emerge nas ondas da internet. O banco de dados da humanidade está mais acessível, mas mais complicado. É como se vivêssemos em uma biblioteca enorme em que houvesse apenas poucos Eco e Morin entre milhões de Coelho e Potter – nem a maravilhosa Alice saberia o que fazer direito com esse coeficiente de dificuldade.
Mas, ainda assim dá. Temos é que tomar posse da nossa formação de opinião. Não dá mais para ir atrás de quem usa os “ias” da vida. O Futuro do Pretérito é pior do que mentir descaradamente. É simplesmente um tempo verbal que não existe! “Fulano de tal TERIA falado...”; “Beltrano TERIA entregue mala...”. Como assim?! Afinal, falou ou não falou? Entregou ou não entregou? Isso tá pior do que fofoca da novela das oito...
Que se inicie logo a reciclagem das fontes de informação! Pois, cedo ou tarde, quando menos esperamos, caímos nessa rede hipnótica do pensamento monolítico e da opinião enlatada.
Ok, continue lendo a Zero Hora, mas leia também o Brasil de Fato! E, se já lê a Istoé, pra que ler Veja?! Vá ler a Carta Capital, a Caros Amigos! Acesse a Agência Carta Maior, procure política no site de TODOS os partidos. Assista a menos novelas, ou melhor, não assista a nada da dramaturgia brasileira. É horrível como fonte de re-significação. Assim você vai se poupar de bobagens enormes como achar que “A Casa das 7 Mulheres” é um registro histórico autêntico...
Pelamordedeus. Comece logo, enquanto é tempo. Porque não vai rolar tão cedo um consultório como esse do início do texto. A não ser em roteiros do Charlie Kaufman....
Kaufman é o roteirista de pérolas como Quero ser John Malkovich, Adaptação e Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças – ASSISTA A TODOS!
Queremos a liberdade de ser livres
Fabiana Mendonça
A liberdade tornou-se palavra gasta por mentes aprisionadas.
Arrotam liberdade, mas se alimentam de regras, de limitações.
Escrevem tratados de como ser, agir e pensar.
Não a queremos assim.
A liberdade foi aprisionada, espancada.
O seu conceito foi pervertido.
Hoje, chamam de liberdade a liberdade de consumo!!
Puro absurdo. Estúpido.
Onde estaria a liberdade de comer? De ter saúde? De trabalhar?
Para o povo, a liberdade de olhar. Só olhar. De longe.
Escutar e tocar, não. Nem saber, nem pensar.
Comunicar não é permitido.
Mas não queremos o que é permitido.
Não queremos a liberdade esta que querem nos vender.
Liberdade não se compra!
Não queremos a liberdade com moral.
Queremos a liberdade que não sabe o que é moral.
Queremos a liberdade em que não há leis, há bom senso.
O bom senso que conhece e respeita a liberdade coletiva e a liberdade individual.
Queremos a liberdade de ser livres.
De escolhermos as opções que não são as que a sociedade impõe.
Queremos criar nossas opções, pular os muros, derrubar as cercas, nadar em outras direções, amar de mil formas, ler o que está escrito e, principalmente, o que não está escrito, escrever o que jorrar de nossas canetas, voar com nossas asas-pensamentos.
Queremos a liberdade solta, a brincar com as crianças em corpos de crianças.
E as crianças em corpos de adultos.
Queremos a liberdade esvoaçante a flertar com a vida, a namorar a alma.
Queremos a liberdade de não concordar com as ervas daninhas deste mundo.
A mesma liberdade que permite que elas cresçam.
Não as arrancaremos.
Seremos livres para plantarmos e cultivarmos flores e frutos em todo o seu redor.
Queremos essa liberdade para tudo e todos neste mundo.
Este mundo que sonha, um dia, ser livre.
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Se quem eu defendia não é mais a solução que eu esperava, mudo minha posição. Não quero mais política partidária. Quero a política libertária. Não quero mais eleger representantes. Não quero que corruptos decidam por mim. Eu voto NULO.
AAAAHHHHHHH!!! NÃO!
Junior Moicano
É, senhores, o que dizer das baixarias políticas no Brasil? Malas de dinheiro, contas no exterior não declaradas, dinheiro na cueca, hipocrisia de velhos caciques, etc. Para o mais desavisado – ou mal-intencionado – o PT é o único problema, para quem avalia um pouco mais a fundo vê que não tem virgem no baile. Todos os ditos grandes partidos estão envolvidos – PSDB, PTB, PMDB, PDT, PFL, PL e por aí vai. Eu sei que primeiro temos que provar tudo isto antes de sair acusando e pedindo cassação, impeachment, o escambau. Mas não dá para negar o sentimento de vergonha desta dinheirocracia em que vivemos, vergonha desta classe política (generalizando mesmo) feita de brasileiros que usam a bandeira de “defesa do povo”, seja ela a bandeira partidária que for, para aproveitar a oportunidade e a influência e perder a ética. Onde está a origem do problema e qual a solução?
Está claro, na minha opinião, que a causa de tudo isto é o que muitos vendem como grande vantagem: o jeitinho brasileiro, a “lei de Gérson”. Prática esta facilmente verificada no dia-a-dia – a fila furada, o lugar próximo da entrada vendido para alguém mais necessitado (e com dinheiro), o “portão” no ônibus, a “conversa” no fiscal de trânsito, o flanelinha que se acha dono da rua e extorque o motorista, o desdobre no guardador de carros honesto para não pagar 1 real, e por aí vai. Obviamente, os nossos políticos também fazem uso desta prática de levar vantagem. Mas será que não existem políticos corretos? Claro que existem, o problema é identificá-los no meio desta chafurda. Eu, por exemplo, confio em poucos deles, mas identifico alguns. Acontece que eu acredito em política como conjunto, grupo, coletividade e não em política baseada na individualidade.Então, qual é a solução? Não tenho a pretensão de ser o dono da verdade e detentor da solução final, mas nas próximas eleições eu vou votar NULO! Se hoje em dia é uma utopia acreditar que a política partidária pode ser séria e transparente, prefiro manter viva a utopia que um dia seremos seres-humanos desenvolvidos suficientes para vivermos sem políticos. Não vou mais depositar confiança em quem nunca devolveu nada de concreto para o povo além de esperanças vazias. A partir de agora, quero ver antes! Quero ter minha confiança conquistada com ações e não mais palavras. Sei que tem aquele discurso de quem vota nulo perde o direito de cobrar e blá, blá, blá. Bobagem, vou continuar cobrando e exigindo. Vou continuar querendo mudanças quando julgar que o rumo está errado, SEMPRE! O que eu vou fazer nas próximas eleições então é digitar um número que não seja de nenhum candidato e teclar confirma. Um grande NÃO a tudo que nos apresentam!
Sabe qual era o lema de Zapata?
André de Oliveira
― Sabe qual era o lema de Zapata?
Terra e liberdade!
Biblioteca Pública Estadual. Início de noite fria y está quase fechando expediente ao público.
As Letras recebem o RAP em seu tradicional templo. Centro. Bate-papo de final de tarde. O RAP saindo da correria do dia. Jogo rápido. Uma leitura. Vida do herói revolucionário.
Entra Prego. Da Ala dos Preto do Corre. Bonja S/A. Lado Leste de Porto Alegre. Vila Bom Jesus. Identificação.
Chega rápido. Pinta sempre por lá quando decide pesquisar y aprofundar idéias em alguns temas. Valoriza o espaço público para a leitura – mapa do conhecimento.
― Eu tenho certeza que o cara que escreve música e que escreve poema é sempre bom pegar outros exemplos de linguagens nos livros. Por que se tu ficar limitado ao que tu fala no dia-a-dia, tu acaba limitado a pular algumas barreiras. Tu pára num muro que é a própria ignorância da gente de não ir procurar. Entendeu? Por que não é burrice ― mira certeiro Prego a blindagem intelectual às classes populares.
A ciência da astúcia. É subdesenvolvimento da expressão como originalidade e estilo de sobrevivência. A afirmação cultural não como meta, mas ponto de partida. Raízes resgatadas. Estética renovada. Difusão. Propagação de saberes. Nem sempre culto, mas engajado e reflexivo.
― Se os caras do RAP quisessem aprimorar para saber escrever melhor, aprender outros vocabulários: é legal ler bastante. Se o serviço público [de bibliotecas] fosse mais divulgado, viriam mais pessoas procurar livros.
Na música. Faz ritmo y poesia. Dupla de inspiração na contestação. Pé-no-chão, seriedade e revolução – insumos da criação artística. Aduba com criatividade. Ginga. Potência no som. Certezas na fala. Há muita opressão a ser liquidada.
Y há o cuidado de deixar a palavra na linha do pensar, por isso Prego se coloca na responsa ao falar da ideologia construída na parceria com o Gibs:
― Não digo que a gente tenha uma das melhores músicas, mas uma das melhores intenções de fazer música. Por que tudo que a gente fala é de conceito mesmo. A gente não está falando só pelo fato de querer falar, querer rimar. É o que a gente vive mesmo. É pelo que a gente corre – coloca a idéia com tranquilidade.
A impressão da tatuagem do braço esquerdo. Prego escolheu a biblioteca como cenário para a filmagem d’uma sequência de apresentação da Bonja S/A para abrir a faixa que a banda terá no DVD do Concerto II Cohab é só RAP, já realizado lá no Rubem Berta, no dia 31 de julho deste ano. Fica esperto, Malandro. Produtora Sítio na organização. Tiririca e Barriga na coordenação da parada.
No saguão de entrada. Depois de um lero com o guardinha, Prego pára no setor de atendimento y pede para consultar livros sobre Emiliano Zapata. A câmera começa a rodar. É pra passar a mensagem. Luz à luta camponesa pelo lado do universo urbano da guerrilha artística. Ação local. América Latina. Fé na transformação que amplia consciências. A luta do povo é a única verdadeira.
O funcionário da biblioteca volta do arquivo de consulta, cruza por Prego y vai buscar um livro da História do México. Encontrado, agora, o caderno é do Prego. Folheia. Escolhe a página, mostra foto de Zapata e fala na categoria:
― Este cara pra mim é incontestável. Por que ele foi defensor dos princípios e não defensor dos homens. A maioria destes caras que falam em revolução, eles são defensores dos homens. Zapata foi defensor de valores valiosos. E Zapata era a favor da geração dele, das que iriam vir e das que passaram antes – justifica, colocando o líder mexicano como um ícone a mais na sua cartilha.
É reforma agrária no latifúndio improdutivo das estantes enfileiradas de livros empoeirados do Estado que não valoriza a leitura. A oralidade é marca registrada da comunicação e da sabedoria no Brasil. RAP e Repente. De repente, novas fronteiras comunicacionais.
― Até hoje no México tem gente que corre pela mesma ideologia de Zapata. O Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), em Chiapas. Os zapatistas adotaram métodos de 1917, viram que era uma forma correta, reta de fazer a revolução no México.
Na real a gente fala muito em revolução, mas na verdade não há exemplos no nosso país. Nós temos exemplos de ditaduras aqui.
A tática de combate do Prego é difundir o contra-conhecimento da cultura popular. Estratégia do abate: instrução do povo como arma intelectual revolucionária para sair das amarras y farsas seculares impostas pela burra classe elite econômica parasita que contamina a imaginação comum. A concentração de riqueza faz ignorar os verdadeiros problemas. A periferia é terreno fértil de pensamento-ação de superação. O RAP e o hip-hop dão surgimento a uma nova elite política no Brasil que ainda está para ser colocada na sua devida importância. Só que a rapaziada não almeja poder. Quer respeito e dignidade p’ras suas comunidades. O futuro a Deus pertence, irmãozinho. E o caminho está sendo trilhado com seriedade.
A instrução do RAP ultrapassa as cadeiras do ensino fundamental e os conceitos televisionados. Escola técnica de versos e sabedoria, por que nasce da dificuldade de acesso à informação de suas próprias raízes. Aprumo. Educação não está restrita a assumir a razão dos mandantes. Tradição, mestiçagem, misticismo e rebelião capacitam hoje a juventude brasileira pobre que sobrevive na Babilônia dos outros. Movimento hip-hop é o que representa a maioria urbana. Os heróis da Pátria não são os heróis do Povo. Leia o RAP. Escute verdades. Sabotage a desigualdade.
A História oficial difundida e ensinada nas instituições de Estado não respeita a civilização africana brasileira carregada de lá pela via da escravidão e o genocídio dos índios nativos, ambos peça de engrenagem para o avanço do colonialismo selvagem. São os verdadeiros trabalhadores brasileiros até hoje. Quem toca pra frente este país. Tem cantor de RAP no corre da venda de tênis naike dos chineses na Esquina Democrática, trabalhando no Departamento de Perícia da Polícia Civil, trampando em escritórios, cuidando e lavando carro na rua, selando carta de Sedex nos Correios. Porrada de bicos. É o Sindicato do RAP. Trabalhadores uni-vos! A cantar a força da transformação. Celebridade, que porra nenhuma.
No final da gravação é feito um pedido. No improviso, Prego canta uma das letras da Bonja S/A no meio da sala de leitura da biblioteca. Olhar sério, mirando fundo da lente:
― Império de Guerra. Conexões formadas. O início da revolução não-armada. Ponto-de-vista? Bandeira Sulista. Tráfico de informação, começo da conquista. Educação para a violência seria a cura. E antes da pena de morte, cultura, instrução, estrutura. Principalmente com a polícia e pro governo. Apura?
Chega de promessas, falsos profetas. A esperança kamikase que nos afeta.
Rotina de merda. Alvo fácil. Sem apoio: a queda, o descaso. Lamentável. Judaria sistemática, tática de abate antes do combate. Ditadura resgatada por trás da fachada. Ordem e progresso sem acesso a terra amada. Libertinagem escancarada. Hoje é televisionada. Apoio barato. Amizade forjada. Farsa todos os dias. Descaradamente. A venda da desgraça.
Na saída da visita, do outro lado da rua, encostado na parede de pedra que sustenta a estrutura do Tribunal de Justiça, Prego diz que o caminho é sempre pelo certo. É sempre tentar fazer o máximo de certo. E p’ràqueles que possam pensar “mas o que é fazer o certo?”, ele explica que é não prejudicar ninguém. É tu fazer o melhor de ti sem prejudicar ninguém y nem a ti próprio. Nas músicas da Bonja S/A, no jeito de pensar, se tenta passar muito isso. Espírito de comunidade.
― Minha vivência na Bom Jesus começou desde criança. Vários me apoiaram. Não tenho o que falar lá da rapa do Coqueiro. Me apoiou, me ensinou muitas coisas. Na real eu aprendi a ser homem lá com a Bom Jesus. Entendeu?
Por que a gente sai pro mundo aí e a gente vê que não é como contaram pra nós na escola, por que o mundo é tirano e tem que caminhar ligeiro pra não ficar pra trás.
Ser Bonja S/A. Ter nascido e ser criado na Bom Jesus, tem que ser de fibra. Só os durinho permanecem.
O fato é que a comunicação do Estado...
Rogério Mattos
Se, antes, eram as empreiteiras e construtoras que levavam a fama por serem bases operantes para a corrupção do erário publico, hoje, essa imagem passa a ser associada a agências de publicidade e à própria publicidade em si. Frases como “pra quê gastar dinheiro com propaganda se a gente não tem saúde e educação”, “bando de publicitário ladrão”, ou “acho que vou ser publicitário, ganhar grana falando mentira” são, de forma preconceituosa, ditas pelas pessoas sem nenhuma culpa, desassociando a profissão da responsabilidade e da importância a ela inerente. O que sobra é o pressuposto desmoralizante da comunicação publicitária, sinônima de entidade sem glamour, mas de poder, luxo e lixo, e a pergunta: é válida a comunicação e as propagandas feitas pelas instituições e empresas públicas?
O tripé da saúde pública é saneamento, nutrição e educação sanitária. Saneamento é estrutura, precisa-se, então, para melhorar a saúde da população, de se construir canais de esgoto, usinas de tratamento, etc. Para uma boa nutrição da população é preciso um país que possibilite uma variedade razoável de alimentos a preços acessíveis, com distribuição gratuita de comida para os mais necessitados e impossibilitados de trabalhar, para as crianças nas escolas, e uma boa educação alimentar para não termos uma população doente com a obesidade, por exemplo. A educação sanitária se faz nas escolas, com livros e com bons professores, se faz na família e na sociedade através de sua herança cultural, passada pelo folclore, pelo diálogo e pelo cotidiano; e se faz com veículos de comunicação e outros suportes. Investir em estrutura é ação de uma política pública. Garantir o setor produtivo e agrícola para fornecer bons alimentos é uma ação de política pública. Comunicar os conhecimentos que ajudem a sociedade a ter uma boa educação sanitária é política pública.
Quanto vale uma campanha propagandista para o estado do Rio Grande do Sul que ensine as crianças e adultos a tomar soro caseiro e a explicar o que é a dengue e o ciclo reprodutivo do mosquito que a transmite? Com dez milhões de habitantes no estado, uma veiculação de 30 segundos no horário do Jornal Nacional da Rede Globo custa R$21.066,00. Um anúncio de meia página no jornal ZH não sai por menos R$10.000,00. Fazer um jornal independente, informativo, tamanho tablóide, de oito páginas, todo colorido, com diagramação, planejamento gráfico, equipe de jornalistas, de produção, com cinco profissionais, justamente remunerados, tiragem de cinco mil exemplares e distribuição dos mesmos, não sai por menos de R$10.000,00. Cinco mil exemplares? Quantos habitantes têm no estado mesmo? Antes que alguém largue este texto e saia elaborando um plano de mídia, e com o pressuposto que comunicação do estado é política pública, podemos concluir que a publicidade, a ou comunicação, num primeiro impacto, é um investimento caro. Contudo, esse investimento gera centenas de milhares de empregos e retorna, consideravelmente, em forma de impostos para a União.
Qual a importância de um professor, de um médico e de um comunicador? Qual das três profissões pode matar ou salvar em virtude de seus atos, de seus erros e de seus acertos? Quem deve ser mais remunerado? São respostas difíceis. No entanto, qualquer sílaba dita tem como pano de fundo uma discussão ética da essência do capitalismo, em que o dinheiro moeda absorveu a representação de qualquer tipo de riqueza material. O materialismo e o acúmulo de dinheiro são hoje dois valores importantes em nossa sociedade, determinando a ambição do ser humano em ser, ou não, bem remunerado, rico, etc. Essa discussão sobre a devida remuneração que um comunicador deve receber, podemos aprofundar numa outra oportunidade. No entanto, para termos um panorama geral, pela regra de mercado, há o repasse de 20% dos veículos de comunicação para as agências de publicidade. E é desse repasse que, teoricamente, vem a remuneração dos profissionais nas grandes licitações públicas, anunciadas nos veículos da grande imprensa. Numa licitação de dez milhões de reais, dois milhões ficam para quem criou e planejou a campanha, sem contarmos os gastos de produção que podem ou não estar nesse repasse. O Fato é que a comunicação do estado com sua população é um bem público, por isso não podemos deixar que caia na mão de aproveitadores e corruptos.
Novas agências de comunicação, em diferentes formas de organização jurídica com novos profissionais preparados e competentes, devem continuar surgindo, independentemente, de todas as adversidades, deixando de lado qualquer tipo de vislumbre da profissão, mas mantendo a vontade de mudar, de trabalhar, de serem remuneradas e de serem valorizadas. Essa crise que escalpela o nosso país serve para que os comunicadores tenham a iniciativa ainda maior de se preparar para servir a administração pública que é extremamente exigente em suas licitações.
Classificar como bem público a comunicação do estado com sua população é imprescindível para discutirmos outros temas como o lucro abusivo de empresas com a comunicação pública; a justa remuneração de um profissional de comunicação pelos órgãos públicos; alternativas para um trabalho de qualidade na comunicação do estado; e a verdadeira importância do profissional de comunicação, para a sociedade, dentro da máquina estatal.
Para finalizar, não podemos esquecer que vulgarmente se diz que propaganda quem faz é governo, e que publicidade quem faz é o mercado. A comunicação publicitária ou propagandista pode ser usada por uma ideologia, mas não é ideológica. Propaganda e publicidade são a mesma coisa e podem ser usadas por qualquer um. Agora fica a pergunta: será esse conceito que faz hoje os políticos serem apresentados como produtos a seus eleitores? Está aí outro tema a ser debatido.