por Elaine Tavares
Em luta neste dia 30, no Trapiche da Beira-Mar, às 10h, em Florianópolis, contra o estaleiro
Não há nada mais servil do que se deixar dominar culturalmente. Quando a força das armas vem, pode-se até entender. Mas quando o domínio se dá de forma sub-reptícia, via cultura, parece mais letal. O Brasil vive isso de forma visceral. A música estadunidense invade as rádios e a juventude canta sem entender a mensagem. No comércio abundam os nomes de lojas em inglês e até as marcas de roupa ou sapato são na língua anglo-saxônica, "porque vende mais" dizem as atendentes. Nas vitrines, cartazes de "sale", ou "50% off" embandeiram a escravidão cultural. E tudo acontece automaticamente, como se fosse natural. Não é!
Outra prática que vem invadindo as escolas e até os jardins de infância é a comemoração do Halloween, o dia das bruxas dos estadunidenses. Lá, no país de Obama, esta data, o 31 de outubro, é um lindo dia de festividades com as crianças, no qual elas saem fazendo estripulias, exigindo guloseimas. Tudo muito legal dentro da cultura daquele povo, que incorporou esta milenar festa irlandesa lá pelo início do 1800. Nesta festa misturam-se velhas lendas de almas penadas, de gente que enganou o diabo e outras tantas comemorações pagãs. Além disso, hoje, ela nada mais é do que mais uma boa desculpa para frenéticas compras, bem ao estilo do capitalismo selvagem, predador.
Aqui no Brasil esta festa não tem qualquer razão de ser, exceto por conta das mentes colonizadas, que também associam o Halloween ao consumo. Não temos raízes celtas, nem irlandesas ou inglesas. Nossas raízes são outras, Guarani, Caraíba, Tupinambá, Pataxó... Nossos mitos - e são tantos - guardam relação com a floresta, com a vida livre, com a beleza. O mais conhecido deles é ainda mais bonito, fala de alegria e liberdade. É o Saci Pererê. Uma figurinha buliçosa que tem sua origem nas lendas dos povos originários, como guardião das generosas florestas que garantiam a vida plena das gentes. Com a chegada dos povos das mais variadas regiões da África, o menino guardião foi agregando novos contornos. Ficou negro, perdeu uma perna e ganhou um barrete vermelho na cabeça, símbolo da liberdade. Leva na boca um cachimbo (o petyngua), muito usado pelos mais velhos nas comunidades indígenas. Sua missão no mundo é brincar, idéia muito próxima do mito fundador de quase todas as etnias de que o mundo é um grande jardim.
Pois é para reviver a cada ano as lendas e mitos do povo brasileiro que vários movimentos culturais e sociais usam o 31 de outubro para comemorar o Dia do Saci. Com atividades nas ruas, as gentes discutem a necessidade da libertação - coisa própria do Saci - das práticas culturais colonizadas. Ao trazer para o conhecimento público figuras como o Saci, o Caipora, o Boitatá, o Curupira, a Mula Sem Cabeça, todos personagens do imaginário popular, busca-se, na brincadeira que é próprias destes personagens mitológicos, incutir um sentimento nacional, de brasilidade, de reverência pela cultura autóctone. Não como sectária diferença, mas como afirmação das nossas raízes.
Em Florianópolis, quem iniciou esta idéia foi o Sindicato dos Trabalhadores da UFSC, que decidiu instituir o 31 de outubro como o Dia do Saci e seus amigos. Assim, neste dia, durante vários anos, os mitos da nossa gente invadiam as ruas, não para pedir guloseimas, mas para celebrar a vida. Tendo como personagem principal o Saci, o sindicato discutia a necessidade de valorizarmos aquilo que é nosso, que tem raiz encravada nas origens do nosso povo. Mas, agora, sob outra direção, que não conspira com estas idéias de nacionalismo cultural, o Saci não vai sair com a pompa usual.
Mas, não tem problema, porque neste 30, prenunciando seu dia, por toda a cidade, se ouvirão os loucos estalos nos pés de bambu. É porque dali saem, às carreiras, todos os Sacis que estavam dormindo, esperando a hora de brincar com as gentes. Redemoinhos, ventanias, correrias e muito riso. Isso é o Saci, moleque danado, guardião da floresta, protetor da natureza. Ele vem, com seus amigos, encantar o povo, fazer com que percebam que é preciso cuidar da nossa grande casa. Não virá pela mão do Sintufsc, mas pelo coração dos homens, mulheres e crianças que estarão no trapiche da Beira-Mar, às 10h, em Florianópolis, em luta contra o estaleiro que Eike Batista quer construir na nossa região. O Saci é protetor da natureza e vai se unir a barqueata que singrará os mares no encontro das gentes em rebelião. Ah Saci, eu vou te esperar... Que venhas com o vento sul...
Publicado no site da Adital.
sábado, 30 de outubro de 2010
O dia do Saci Pererê
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
1ª Feira do Livro Anarquista
Porto Alegre terá sua 1ª Feira do Livro Anarquista! Salve!
PROGRAMAÇÃO
Sexta (5 de novembro)
Abertura da Feira do Livro Anarquista
A partir das 19:00
Espetáculo “O Homem Banda”, com Mauro Bruzza, da Cia. UmPédeDois
Lançamento dos livros Dias de Guerra, Noites de Amor – Crimethinc e Zonas Autônomas –(vol. 2) – Hakim Bey, pela Editora Deriva
Sábado (6 de novembro)
Oficina: Costura de Livros sem frescura
Das 11h às 12:30
Proponente: Editora Deriva
Almoço Vegano
A partir das 13h
Bate-papo: Anarquismo e Geografia
Das 14:30 às 16:00
Convidado: Dilermano Cattaneo
Bate-papo História pelos Anarquistas
Das 16:30 às 18:00
Convidado: Anderson Romário Pereira Corrêa
O saber histórico serve para compreender e explicar o processo pelo qual as sociedades e os indivíduos passaram para chegar a ser o que são hoje. Conhecer este processo é um dos pressupostos para poder agir sobre ele. O saber histórico serve também como discurso para justificar ações e posturas presentes. O texto “A história na visão de anarquistas” pretende conhecer como alguns anarquistas “clássicos” pensavam a História. A modesta intenção do texto é provocar a discussão entre aqueles que se identificam com o anarquismo e que procuram referências teóricos e metodológicos para seus estudos em História.
Filme e bate-papo: Ácratas
Às 19h
O documentário reconstói narrativamente a experiência dos “anarquistas expropiadores” no Rio da Prata dos anos 30. Documentário independente realizado com fotografias, filmes de época, materiais de arquivo e testemunhos de sobrevivientes.
Conta também com intervenções do historiador anarquista Osvaldo Bayer, quem tem escrito sobre o fenómeno dos anarquistas expropiadores, Abel Paz, historiador da revolução espanhola e do intelectual ítalo-uruguaia Luze Fabbri.
Domingo (7 de novembro)
Oficina Stencil
Às 10:00
Proponente: Alisson
Almoço Vegano
A partir das 13h
Bate-papo: Anarcologia e Protopia
Das 14:30 às 16h
Convidado: Alt
Um papo sobre saberes anarquizantes (Anarcologia). Sobre ações históricas em favor da autonomia e experiências comunalistas: das barricadas de Comuna de Paris aos Caracóis da Selva Lacandona. Embates territoriais em contextos de ampliação do aparato de repressão e controle no contexto urbano. Possibilidades protópicas, a estratégia das zonas autônomas, formas de libertação da imaginatividade.
Bate-papo: Política e anarquismo
Horário: 16:30 – 18:00
Convidado: Bruno Lima Rocha
Bate-papo: Feminismo e Anarquismo
Horário: 18:30 – 20:00
Convidado: Ação Antisexista
Propomos um diálogo sobre as conexões entre anarquismo e feminismo.
Existe anarquismo sem feminismo? Qual a importância dos principios libertários para o feminismo contemporâneo?
Estaremos também lançando os zines Nem Escravas Nem Musas #2 e Reajindo – Defesa pessoal para mulheres de todas as idades.
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
Polícia identifica artistas por teatro de rua na esquina "democrática"
Da Cambada de Teatro em Ação Direta Levanta FavelA...:
"No dia 16 de Outubro de 2010 a Esquina 'Democrática' voltou a ser palco de embate. A Cambada de Teatro em Ação Direta Levanta FavelA... apresentava sua montagem de Teatro de Rua Árvore em Fogo quando vários soldados da Brigada Militar tentaram interromper a apresentação abaixo de ameaças de prisão e de gritos para intimidar os atores.
Nós, da Cambada, em um verdadeiro ato de resistência, levamos a apresentação até o final. Foi quando nos vimos detidos (inclusive uma criança de 11 anos que participa da peça), não poderíamos deixar o local nem poderíamos levar nosso material cênico, caso não nos identificássemos. Fomos levados a delegacia quando, por sorte, um pedestre se identificou como advogado e nos acompanhou. Não sabemos o que seria dentro da delegacia cercados por vários policiais sem este advogado que apenas passava e resolveu não ficar calado diante de tão absurda atitude dos soldados. Um deles argumentou que um dos motivos que os fizeram tentar parar a peça foi que 'algumas pessoas não estavam gostando'.
Depois de algum tempo de discussão dentro da delegacia, fomos identificados e liberados. Esta intervenção da Brigada Militar desrespeita o Artigo 5º da Constituição Federal de 1988 que diz: 'É LIVRE A EXPRESSÃO DA ATIVIDADE INTELECTUAL, ARTÍSTICA, CIENTÍFICA E DE COMUNICAÇÃO INDEPENDENTEMENTE DE CENSURA OU LICENÇA'.
Este foi mais um ato estúpido, inexplicável e inconstitucional da polícia. Árvore em Fogo é um alerta para a necessidade de Liberdade. Junto com Brecht a Cambada de Teatro em Ação Direta Levanta FavelA...afirma: DE HOJE EM DIANTE TEMEREMOS MAIS A MISÉRIA QUE A MORTE!!"
Negro Sopapo...
...parece trovão.
- leia texto de Têmis Nicolaidis no blog da Bataclã FC, clique aqui.
domingo, 24 de outubro de 2010
Denúncia: Blog Nazista de Porto Alegre
Cuidado com os Skinheads nas ruas de Porto Alegre. Vamos divulgar e denunciar este blog nazista que faz apologia a Hitler e divulga músicas racistas, tendo um espaço para bate papo que os nazistas ficam discursando abertamente.
Texto publicado no blog musicaparabrancos.blogspot.com:
Sieg Heil!
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
Famílias do Jardim em Canela
Clique na imagem para ampliar.
Conheça mais sobre o projeto!
I Encontro da Rede Juçara - Polpa de Juçara e Comunidades
A compreensão do uso sustentável das espécies nativas como uma das principais estratégias para conservação da biodiversidade.
Este é o pensamento que marca os dois anos de trabalho e articulação da REDE JUÇARA na promoção deste primeiro encontro, em parceria com a ABJICA, reunindo agricultores familiares, comunidades tradicionais, organizações da sociedade civil, gestores públicos, universidades, entre outros, para discutir novos rumos para o bioma Mata Atlântica.
- Saiba mais: www.redejucara.org.br -
______________________________________
Realização:
REDE JUÇARA (Ação Nascente Maquiné - ANAMA; Associação de Desenvolvimento Comunitário do Bairro do Rio Preto; Associação de Economia Solidária e Desenvolvimento Sustentável Guapiruvu - AGUA; Associação de Moradores do Quilombo do Campinho - AMOQC; Associação dos Colonos Ecologistas do Vale do Mampituba - ACEVAM; Associação Papa-Mel de Apicultores de Rolante; Associação para Cultura Meio Ambiente e Cidadania - AKARUI; Centro de Motivação Ecológica e Alternativas Rurais - CEMEAR; Centro Ecológico; Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo - ESALQ/USP; Fundação para a Conservação e a Produção Florestal do Estado de São Paulo - FF; Instituto de Permacultura e Ecovilas da Mata Atlântica - IPEMA; Instituto Socioambiental - ISA; Núcleo de Estudos em Desenvolvimento Rural Sustentável e Mata Atlântica - DESMA/UFRGS) e Associação dos Bolsistas JICA - ABJICA.
Apoio:
sábado, 16 de outubro de 2010
Nota à guerrilha
Aos seguidores do @editorwu não é novidade, mas o Prof. Wladymir Ungaretti bailou em uma curva do final de semana e acabou nas massegas, se perguntando onde estava o equilíbrio. O desnível do asfalto trapaceou o objetivo e lhe tirou a moto d'entre as pernas. Que falácia da sorte.
Texto e fotos do Celeuma. Leia mais sobre os desníveis da deriva.
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
Mestre Paraquedas na Trilha do Documentário "O Grande Tambor"
O mestre Griô, "Eugênio da Silva Alencar, conhecido como Mestre Paraqueda, de 73 anos, é músico, compositor, poeta, desenhista, um contador de histórias. Vivenciou os chamados territórios negros em Porto Alegre: nasceu na região de Alto da Bronze, morou no Areal da Baronesa, no Menino Deus, dentre outras regiões da cidade que concentraram os descendentes de africanos. A ligação com o samba veio através da família, que costumava tocar e cantar em festas, nos finais de semana. Começou a compor por volta dos oito anos, na metade da década de 1940.
Seu apelido veio de quando serviu ao Exército como para-quedista. Foi assim que conheceu o Rio de Janeiro e lá conviveu com o cotidiano da Escola de Samba Portela. Participou também dos ranchos da Unidos da Vila Valqueire. Sua relação com o carnaval é muito forte. Compôs mais de 60 temas, sendo que 40 viraram sambas enredos de diferentes escolas de Porto Alegre. Fundou diversas sociedades carnavalescas da cidade como o Comandos do Morro, o Sambão, o Samba Puro, Unidos da Conceição, dentre outras.
Como desenhista, construiu diversas alegorias para estas sociedades e escolas de samba. Gravou muitos sambas enredos dos carnavais de Porto Alegre e teve outras músicas gravadas por outros intérpretes. Uma destas, chamada “É morro, é favela, é gueto, é quilombo” foi censurada pela ditadura militar. Sua trajetória é marcada pela resistência das culturas populares, da negritude do pampa, municiada pela música e poesia."*
Mestre Paraquedas nos brindou com composição feita especialmente para o documentário "O Grande Tambor", e ontem a noite um grupo especial de músicos (Paulo Romeu, Wado, Lucas Kinoshita, Cal e o próprio mestre) se reuniu no Ponto de Cultura Odomodê com a missão de harmonizar esta música. Eis o resultado:
A gravação da música para a trilha vai ser semana que vem, no Ponto de Cultura Ventre Livre.
*Texto: Caiuá Al-Alam, Pesquisador.
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
Música que une Brasil, Argentina e Uruguay - o pampa, o prata, o sul...
Neste primeiro de três recortes, acompanhamos os músicos gaúchos/brasileiros Richard Serraria e Lucas Kinoshita (membros da Bataclã FC) en gira por Buenos Aires, armando e fazendo música com o milongueiro argentino Pablo Grinjot. Na primeira parte, Pablo dá sua palhinha nos fundos de sua residência e, na segunda, tocam juntos no espaço No Avestruz, bairro de Palermo.
O Dia da Criança que a TV não mostra
Foi lindo. Centenas de crianças sem terra, do movimento social mais importante do mundo, o MST, visitaram as comunidades do Morro Santa Teresa, onde milhares de crianças tiveram (talvez ainda tenham) suas moradias ameaçadas pelo Governo do RS que, atendendo a interesses de especuladores imobiliários, montou um projeto para tirá-los de casa.
Isso tudo aconteceu, literalmente, na porta de todas as TVs em Porto Alegre (ficam no Morro Santa Teresa), mas apenas a TVE esteve lá para registrar o dia das crianças criminalizadas por esses próprios veículos de comunicação. Em qualquer lugar do mundo, com uma imprensa que tenha um mínimo de dignidade, esse acontecimento seria notícia amplamente coberta pela mídia. Mas as TVs estavam ocupadas em descer para o asfalto e registrar apenas outra infância, no centro da cidade.
Veja mais sobre a caixa preta gigante, em que as crianças puderam entrar dentro e ver a foto da cidade vista do alto do morro. No Celeuma.
Leia mais sobre a celebração da criançada no blog do Levante Popular da Juventude.
Fotos 01,02,03 e 04 de Leonardo Melgarejo.
terça-feira, 12 de outubro de 2010
Haiti, para não esquecer
Anselmo Kanaan, amigo e lutador dessas bandas do sul, está no Haiti. Vendo agora à tarde que ele lia seus emails, perguntei como estava por lá. A resposta: "Cara, estamos peleando. Muito mesmo, miséria em qualquer canto. Assisto enterro à toda hora. Temos que pensar outra sociedade. Esta podre. Um abraço para os guerreiros."
domingo, 10 de outubro de 2010
Sem Terrinha visitam Morro Santa Teresa no dia da criança
Cerca de 500 crianças Sem Terra vão conhecer a realidade da criançada que vive na cidade.
Para comemorar o Dia da Criança, em torno de 500 meninos e meninas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) irão visitar a realidade das famílias que vivem no Morro Santa Teresa, em Porto Alegre. A manhã de terça-feira, dia 12 de outubro, vai servir para que a criançada do campo conheça o espaço e a luta das comunidades urbanas por meio de caminhada e confraternização.
A atividade dos Sem Terrinha no Morro vai sair da Vila Gaúcha, às 9 horas, e passar pelas Vilas Ecológica e União Santa Teresa. Crianças de outros movimentos também irão participar do encontro, como do Quilombo dos Silva, do Movimento dos Catadores de Materiais Recicláveis e do Comitê de Resistência Popular da Restinga. Toda essa criançada vai ao Santa Teresa para realizar um manifesto de solidariedade e união entre o campo e a cidade.
Os Sem Terrinha são crianças que têm a identidade da classe trabalhadora, são filhos e filhas da luta que inspiram o próprio MST. O movimento que defende o direito de estudar das crianças por meio da luta por escolas e pelo direito de ser reconhecido no campo como sujeito de sua própria história, a luta pela soberania popular.
sábado, 9 de outubro de 2010
Encontro dos Sem Terrinha
As crianças dos acampamentos e assentamentos da Reforma Agrária, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra querem te convidar para um encontro muito importante. Trata- se do 14o Encontro Estadual dos Sem Terrinha que acontecerá nos dias 11, 12 e 13 de outubro, na semana da criança, para estudar, brincar e reafirmar que dia da criança também é dia de luta por educação. Convidamos você para junto com a gente dizer bem alto, pra todo mundo ouvir que Fechar escola é crime! E que os Sem Terrinha estão em luta na defesa da Escola Itinerante. Nosso encontro terá lugar, no assentamento Integração Gaúcha, em Eldorado do Sul, e segue a seguinte programação:
1o dia (11/10) Abertura e Oficinas Pedagógicas
2o dia (12/10) Visita ao Morro Santa Tereza/POA – crianças do campo e da cidade;
Confraternização
3o dia (13/10) Visita ao Morro Santa Tereza/POA – crianças do campo e da cidade;
Mobilização das crianças - Marcha em defesa da Escola Itinerante/POA
É bom lembrar que, se não puderes participar de todo o encontro, tua presença no dia 13 de outubro (quarta-feira) é imprescindível. Sairemos da Praça XV às 9h rumo ao Ministério Público Estadual.
Sem Terrinha - MST/RS
Todas as pessoas compartilhando todo o mundo
Imagine que não há paraíso
É fácil se você tentar
Nenhum inferno abaixo de nós
Acima de nós apenas o céu
Imagine todas as pessoas
Vivendo para o hoje
Imagine não existir países
Não é difícil de fazê-lo
Nada pelo que matar ou morrer
E nenhuma religião também
Imagine todas as pessoas
Vivendo a vida em paz
Você pode dizer
Que eu sou um sonhador
Mas eu não sou o único
Espero que um dia
você se junte a nós
E o mundo, então, será como um só
Imagine não existir posses
Me pergunto se você consegue
Sem necessidade de ganância ou fome
Uma irmandade de homens
Imagine todas as pessoas
Compartilhando todo o mundo
Você pode dizer
Que eu sou um sonhador
Mas eu não sou o único
Espero que um dia
Você se juntará a nós
E o mundo, então, será como um só
(o sonho de um cara que faria hoje 70 anos)
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
DOIS PESOS…
por Maria Rita Kehl
(Artigo que provocou a demissão da colunista do Estado de São Paulo por "delito de opinião". Os donos dos jornais e a classe social que os controla não consegue ver, ouvir e ler certas coisas...)
Este jornal (O Estado de São Paulo) teve uma atitude que considero digna: explicitou aos leitores que apoia o candidato Serra na presente eleição. Fica assim mais honesta a discussão que se faz em suas páginas. O debate eleitoral que nos conduzirá às urnas amanhã está acirrado. Eleitores se declaram exaustos e desiludidos com o vale-tudo que marcou a disputa pela Presidência da República. As campanhas, transformadas em espetáculo televisivo, não convencem mais ninguém. Apesar disso, alguma coisa importante está em jogo este ano. Parece até que temos luta de classes no Brasil: esta que muitos acreditam ter sido soterrada pelos últimos tijolos do Muro de Berlim. Na TV a briga é maquiada, mas na internet o jogo é duro.
Se o povão das chamadas classes D e E – os que vivem nos grotões perdidos do interior do Brasil – tivesse acesso à internet, talvez se revoltasse contra as inúmeras correntes de mensagens que desqualificam seus votos. O argumento já é familiar ao leitor: os votos dos pobres a favor da continuidade das políticas sociais implantadas durante oito anos de governo Lula não valem tanto quanto os nossos. Não são expressão consciente de vontade política. Teriam sido comprados ao preço do que parte da oposição chama de bolsa-esmola.
Uma dessas correntes chegou à minha caixa postal vinda de diversos destinatários. Reproduzia a denúncia feita por “uma prima” do autor, residente em Fortaleza. A denunciante, indignada com a indolência dos trabalhadores não qualificados de sua cidade, queixava-se de que ninguém mais queria ocupar a vaga de porteiro do prédio onde mora. Os candidatos naturais ao emprego preferiam viver na moleza, com o dinheiro da Bolsa-Família. Ora, essa. A que ponto chegamos. Não se fazem mais pés de chinelo como antigamente. Onde foram parar os verdadeiros humildes de quem o patronato cordial tanto gostava, capazes de trabalhar bem mais que as oito horas regulamentares por uma miséria? Sim, porque é curioso que ninguém tenha questionado o valor do salário oferecido pelo condomínio da capital cearense. A troca do emprego pela Bolsa-Família só seria vantajosa para os supostos espertalhões, preguiçosos e aproveitadores se o salário oferecido fosse inconstitucional: mais baixo do que metade do mínimo. R$ 200 é o valor máximo a que chega a soma de todos os benefícios do governo para quem tem mais de três filhos, com a condição de mantê-los na escola.
Outra denúncia indignada que corre pela internet é a de que na cidade do interior do Piauí onde vivem os parentes da empregada de algum paulistano, todos os moradores vivem do dinheiro dos programas do governo. Se for verdade, é estarrecedor imaginar do que viviam antes disso. Passava-se fome, na certa, como no assustador Garapa, filme de José Padilha. Passava-se fome todos os dias. Continuam pobres as famílias abaixo da classe C que hoje recebem a bolsa, somada ao dinheirinho de alguma aposentadoria. Só que agora comem. Alguns já conseguem até produzir e vender para outros que também começaram a comprar o que comer. O economista Paul Singer informa que, nas cidades pequenas, essa pouca entrada de dinheiro tem um efeito surpreendente sobre a economia local. A Bolsa-Família, acreditem se quiserem, proporciona as condições de consumo capazes de gerar empregos. O voto da turma da “esmolinha” é político e revela consciência de classe recém-adquirida.
O Brasil mudou nesse ponto. Mas ao contrário do que pensam os indignados da internet, mudou para melhor. Se até pouco tempo alguns empregadores costumavam contratar, por menos de um salário mínimo, pessoas sem alternativa de trabalho e sem consciência de seus direitos, hoje não é tão fácil encontrar quem aceite trabalhar nessas condições. Vale mais tentar a vida a partir da Bolsa-Família, que apesar de modesta, reduziu de 12% para 4,8% a faixa de população em estado de pobreza extrema. Será que o leitor paulistano tem ideia de quanto é preciso ser pobre, para sair dessa faixa por uma diferença de R$ 200? Quando o Estado começa a garantir alguns direitos mínimos à população, esta se politiza e passa a exigir que eles sejam cumpridos. Um amigo chamou esse efeito de “acumulação primitiva de democracia”.
Mas parece que o voto dessa gente ainda desperta o argumento de que os brasileiros, como na inesquecível observação de Pelé, não estão preparados para votar. Nem todos, é claro. Depois do segundo turno de 2006, o sociólogo Hélio Jaguaribe escreveu que os 60% de brasileiros que votaram em Lula teriam levado em conta apenas seus próprios interesses, enquanto os outros 40% de supostos eleitores instruídos pensavam nos interesses do País. Jaguaribe só não explicou como foi possível que o Brasil, dirigido pela elite instruída que se preocupava com os interesses de todos, tenha chegado ao terceiro milênio contando com 60% de sua população tão inculta a ponto de seu voto ser desqualificado como pouco republicano.
Agora que os mais pobres conseguiram levantar a cabeça acima da linha da mendicância e da dependência das relações de favor que sempre caracterizaram as políticas locais pelo interior do País, dizem que votar em causa própria não vale. Quando, pela primeira vez, os sem-cidadania conquistaram direitos mínimos que desejam preservar pela via democrática, parte dos cidadãos que se consideram classe A vem a público desqualificar a seriedade de seus votos.
Maria Rita Kehl é psicanalista, doutora em psicanálise pela PUC de São Paulo, poeta e ensaísta. É autora de vários livros, entre os quais se destacamSobre ética e psicanálise (2002) e Videologias, escrito em parceria com Eugênio Bucci, publicado pela Editora Boitempo em 2004.
Artigo publicado originalmente no diário conservador paulistano O Estado de São Paulo, após o qual a autora, por decisão do Conselho Editorial do jornal, foi demitida na última terça-feira.
terça-feira, 5 de outubro de 2010
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
Artur, o Arteiro
Mais no: http://www.rafaelcartum.blogspot.com