Entrevista com Marinho, educando da Escola Josué de Castro(ITerra) em Veranópolis-RS. Marinho mostra seu local de trabalho e fala sobre a importância da arte, educaçã e cultura para os movimentos sociais.
sexta-feira, 29 de julho de 2011
Marinho, educando do ITerra
quinta-feira, 28 de julho de 2011
Manifesto do Congresso Brasileiro de Cinema contra a CENSURA
O CBC – CONGRESSO BRASILEIRO DE CINEMA, entidades culturais e cidadãos brasileiros abaixo assinados manifestam seu total REPÚDIO a ATOS DE CENSURA à exibição de obras audiovisuais que, contrariando frontalmente o disposto na CONSTITUIÇÃO FEDERAL BRASILEIRA, infelizmente vêm se multiplicando por todo o país e que, neste momento manifesta-se em sua forma bárbara e virulenta através das consecutivas proibições da exibição do filme “A Serbian Film – Terror sem Limites”, na cidade do Rio de Janeiro, primeiramente no Espaço Caixa Cultural, dentro da programação da RioFan2011 – por veto da Caixa Econômica Federal, empresa patrocinadora do evento – e logo a seguir, momentos antes de sua pré-estréia no Cine Odeon, por determinação judicial exarada pela juíza Jatahy Nygaard, da 1ª Vara da Infância, da Juventude e do Idoso do Rio de Janeiro, originária de ação movida pelo Diretório Regional do PARTIDO DEMOCRATAS, quando para além da mera proibição da exibição do filme, lembrando os mais obscuros e dolorosos tempos da ditadura, sem qualquer base legal, já que sem amparo até mesmo na determinação judicial exarada, desembocou na ação de “seqüestro” da cópia em 35mm da obra.
Acerca destes ATOS DE CENSURA, merece registro que o mesmo filme, após ter se submetido a todos os trâmites legais impostos pela Ancine e pelo Ministério da Justiça, inclusive no que diz respeito à classificação indicativa, estabelecida pela Portaria 3.203, de 8 de outubro de 2010, já havia sido exibido sem qualquer problema de ordem legal e sem causar quaisquer danos sociais, nas programações do Fantaspoa – Festival Internacional de Cinema Fantástico, realizado na cidade de Porto Alegre (RS) e do Festival Internacional Lume de Cinema, realizado na cidade de São Luís (MA). Neste contexto, julgamos ainda mais preocupante de que estes ATOS DE CENSURA estejam ocorrendo justamente na cidade do Rio de Janeiro, que sempre foi tida por grande parte dos brasileiros como sendo “CAPITAL CULTURAL” do país. E que por conta do poderio de suas empresas midiáticas faz com que os acontecimentos locais tenham repercussão nacional.
É também necessário o registro de que às PROIBIÇÕES / ATOS DE CENSURA acima mencionados foram determinadas por “autoridades” que sequer assistiram a obra CENSURADA e que, portanto, por não terem o conhecimento prévio acerca do seu real conteúdo, na prática, utilizaram de seus poderes de maneira no mínimo discricionária, desproporcional e inaceitável dentro do ESTADO DE DIREITO, e atenderam apenas as provocações e pressões exercidas por forças que sempre relutaram em aceitar a plena vigência da DEMOCRACIA, esquecendo que a LIBERDADE DE EXPRESSÃO e de PLENO ACESSO A INFORMAÇÃO E A CULTURA são direitos humanos inalienáveis e fazem parte das cláusulas pétreas de nossa CONSTITUIÇÃO, não podendo, portanto serem submetidas aos interesses de grupamentos partidários.
Assim, neste momento de perplexidade e indignação, o CBC – CONGRESSO BRASILEIRO DE CINEMA renova seu REPÚDIO a todo e qualquer ATO DE CENSURA e conclama a todos os brasileiros a se manifestarem e LUTAREM CONTRA A VOLTA DA CENSURA ou quaisquer outras atitudes desta natureza, que colocam em risco a própria essência da DEMOCRACIA e o pleno exercício dos direitos de cidadania.
Renova ainda seu ALERTA para o fato que, pelos mais variados e sempre injustificáveis motivos, tais atos vem perigosamente se ampliando e se espalhando por todo o país. E precisam encontrar resistência para que as exceções não acabem transformando-se em regra geral.
Finalmente apela às autoridades judiciais a imediata revisão da proibição da exibição do filme “A Serbian Film – Terror sem Limites”, bem como a imediata devolução da cópia ilegalmente “sequestrada”.
PELA LIBERDADE DE EXPRESSÃO!
PELO RESPEITO À CONSTITUIÇÃO FEDERAL!
PELA MANUTENÇÃO DA LEGALIDADE E DO ESTADO DE DIREITO!
PELO DIREITO DE PLENO ACESSO A INFORMAÇÃO E A CULTURA!
BRADAMOS TODOS COLETIVAMENTE:
ABAIXO A CENSURA!
FILMES FORAM FEITOS PARA SEREM VISTOS E NÃO CENSURADOS!
CBC / CONGRESSO BRASILEIRO DE CINEMA
Para assinar este documento acesse:
http://www.peticaopublica.com.br/?pi=P2011N12699
terça-feira, 26 de julho de 2011
Jovens de movimentos constroem a história nova, para um mundo que precisa ser novo
São jovens que constroem sua história a partir da dor que experimentaram na carne, da alegria que carregam no coração. Estudam a realidade do campo e da cidade, sobretudo, da condição humana. Investigam os pensadores, refletem, questionam, pensam, elaboram algo novo, próprio, vivo, justo. Discutem ideias, debatem estratégias, alternativas, soluções. Ouvem os que têm o que falar, falam para os que precisam ouvir. Trabalham em coletivo, organizam a luta pela liberdade. E sempre têm um sorriso. Preservam a memória, plantam sementes, rompem correntes, tocam o tambor. E decidiram, de agora em diante, temer mais a miséria do que a morte.
Uma câmera em seus olhos são as imagens de um outro mundo, novo. Nós os respeitamos, os admiramos. São os jovens dos movimentos sociais. E esta é a música deles:
O vídeo é um pouco do que viveram no Iterra, em Veranópolis, entre 21 e 23 de julho, numa oficina de audiovisual. Outros vídeos virão.
Ilustração
segunda-feira, 25 de julho de 2011
5x Cultura Digital
Cultura livre, vídeo livre, imaginação livre: Cinco Vezes Cultura Digital reúne cinco ensaios audiovisuais produzidos a partir de uma provocação feita pela Casa da Cultura Digital a cinco coletivos de realizadores. Seu ponto de partida é a ideia de #culturadigitalbr. O resultado é a reunião de investigações sobre as transformações que estão em curso no nosso país e no mundo.
No Fórum da Cultura Digital Brasileira nos interessou (ao Coletivo Catarse) as ideias de subversão e contra-hegemonia, que as novas tecnologias ajudam a ganhar o mundo. Foi oportunidade de entrar em contato com quem pensa, faz e vive cultura digital, e trabalha para que seja livre. Experiências de pessoas preocupadas em compartilhar, em contraposição as que se consideram donas do conhecimento e restringem, aprisionam, transformam cultura em produto a ser pago apenas por quem pode comprá-la. “É o velho sistema do mundo industrial e suas desigualdades básicas”, nos disse Sergio Amadeu. Contra esse sistema os que reinventam e recriam com sua ousadia e imaginação uma nova proposta de sociedade.
Mesmo com as tentativas de vigiar e oprimir o uso da tecnologia, ela se mantém firme a serviço da resistência e da beleza. Saber das pequenas revoluções que nascem da apropriação dessas tecnologias pelas periferias, e de tantas possibilidades de utilizá-las para que o povo se organize nos alimenta e inspira. Neste vídeo produzido a partir do Fórum, saímos do formato documental tradicional para buscar o ensaio e chegamos a um trabalho que tem mais a nossa cara. Um devaneio poético pelas lutas digitais, pela cultura livre. Saravá aos bits revolucionários!
Guerrilha Midiática from FLi Multimídia on Vimeo.
ACESSE AO SITE DO PROJETO E ASSISTA AOS OUTROS QUATRO VÍDEOS AQUI.
sexta-feira, 22 de julho de 2011
No Iterra, contando parte da realidade que não se mostra
No ITERRA (Instituto de Educação Josué de Castro), em Veranópolis/RS, estão reunidos 33 jovens de todo o país. Militam no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Movimento dos Atingidos por Barragens e Movimento dos Trabalhadores Desempregados. Sabem que as trasformações sociais que sonham acontecer e pela qual trabalham com razão e com paixão enfrentam a omissão e as mentiras da grande indústria da comunicação. Por isso, estudam como fazer sua própria mídia, contar sua versão sobre a vida que levam, mostrar seu olhar, fazer ouvir suas palavras, suas canções. O Coletivo Catarse está aqui. E estamos felizes por colaborar nesse processo.
quinta-feira, 21 de julho de 2011
Revolta da população em Jaraguá do Sul
A população de Jaraguá do Sul - SC está indignada com a tentativa de aumentar o número de vereadores na cidade. A campanha distribuiu mensagens para evidenciar o absurdo democrático que vivemos. Vamos apoiar esta campanha e transformar esta luta em mobilização nacional. Não precisamos de mais vereadores.
quarta-feira, 20 de julho de 2011
Gravação com Sopapo: processo e descobertas
Descobrimos que a melhor microfonação para a capatação de sopapo é com 3 microfones, posicionados um mirando a pele, outro na boca (saída de ar) e mais um de ambiência posicionado a mais ou menos 1 metro de distância.
Leia o texto na íntegra no site da Bataclã FC: www.bataclafc.com.br
segunda-feira, 18 de julho de 2011
Presidente do Ibama entrega o jogo sobre Belo Monte
A polêmica em torno da construção de Belo Monte foi tema do programa 60 Minutos, da Austrália. Neste trecho, o atual presidente do Ibama, Curt Trennepohl, fala o que realmente pensa sobre os povos do Xingu:
O que o presidente do Ibama disse todas as comunidades do Xingu e todos os ambientalistas do Brasil já sabiam. Mas não dizer era uma estratégia pra tentar enganar! E agora? Vamos todos compartilhar o vídeo! Belo Monte tem que parar!
Confira o programa na íntegra (em inglês): http://sixtyminutes.ninemsn.com.au/videoindex.aspx?videoid=49f44691-501b-41b9...
Encontro das Mulheres do Campo e da Cidade
Aconteceu no sábado, 02 de julho, o Encontro de Mulheres do Campo e da Cidade - Entre o poder da tortura e a tortura do poder. Organizado pela ONG Acesso, em parceria com a THEMIS e MST, o encontro se realizou no Centro de Formação Sepé Tiaraju, assentamento Filhos de Sepé, em Viamão, e foi patrocinado pela Comissão de Anistia, do Ministério da Justiça.
Estiveram presentes mulheres de diversas organizações sociais: MST, Movimento das Mulheres Camponesas, Resistência Popular, Mulheres da Paz (Guajuviras - Canoas), MTD, Levante da Juventude, SAJU, Acesso, THEMIS, Procuradoria de Canoas, CPT, Utopia e Luta, Renaap e Somos.
Entre as propostas do encontro, justamente reunir as militantes desses diversos movimentos para debaterem, através do recorte da justiça de transição, o papel da mulher na luta por direitos e na efetivação da democracia e liberdade, diante da nossa redemocratização inacabada.
domingo, 17 de julho de 2011
E agora, Josué? Nas terras do Bem-virá!
(Dia desses publicamos aqui a divulgação do filme Nas terras do Bem-Virá, exibido no Ciclo de Debates Conflitos Agrários, atividade do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural da UFRGS.
Sobre o debate daquela noite de 06 de julho nos chega esta carta dura, bonita e sincera, publicada originalmente no blog Afrolhetim. Mais uma vez alguém levanta o espelho pra enxergarmos a arrogância e o preconceito dos que acreditam o RS algo melhor e mais digno do que outros lugares do país. Mais uma vez escancarada nossa ignorância.)
Porto Alegre, 12 de julho de 2011
"Meu caro amigo, me perdoe, por favor, se eu não lhe faço uma visita. Mas como agora apareceu portador, mando notícias nessa escrita."
Josué, me chamaram esses dias pra assistir ao filme “Nas Terras do Bem-Virá” num ciclo de debates sobre conflitos agrários. Resolvi assuntar e descobri que se tratava de um dos documentários mais completos para se entender a questão dos conflitos agrários no Brasil.
Oxe, mas só valeu à pena sair de casa a 5°C pelo filme e Lua sorrindo no fim, porque a noite terminou com uma tentativa frustrada de debate, por falta de tempo, depois de um resgate histórico do tema por um professor e o relato da experiência de uma procuradora federal. Não me culpe, compadre, por começar a te escrever me queixando, mas aquela noite foi danada e eu ando aperreada pra te contar. Longe de botar defeito na atuação da exma. procuradora nos dois anos em que combateu voluntariamente o trabalho escravo nas grandes fazendas da região sul do Pará, minha arenga é pela fala dela quando a telinha se apagou.
Confesso, visse, que fiquei arretada quando ouvi o depoimento de um fazendeiro latifundiário no vídeo que considerava um favor submeter àquelas condições subumanas os agricultores nordestinos que migraram para a Amazônia para virarem peões de trecho, diante das propagandas no Regime Militar de uma “terra que mana leite e mel” para "homens sem terras do nordeste em terras sem homens na Amazônia".
Mas fiquei besta quando a procuradora defendeu que essa situação acontece pela “submissão do povo nordestino a um prato de comida, por sua crendice e conformismo religiosos”, lamentando que não tenham “o mesmo sangue lutador do povo gaúcho tampouco sua estrutura cultural”.Crendice? Conformismo? Parei pra pensar que a religiosidade desse povo foi fundamental para resistirem às penúrias da longa e sofrida viagem, antes das condições insalubres de trabalho e vida nas grandes fazendas. E foi essa religiosidade e sabedoria popular que fizeram esses imigrantes, assim como a população local amazônica, respeitarem e reconhecerem na figura emblemática da Irmã Dorothy, uma força divina no enfrentamento do poder dos fazendeiros, políticos corruptos, assassinos e da mídia tradicional.
Como alguém pode criticar a “pureza e inocência” dos nordestinos que não só acreditaram nas profecias de Padre Cícero, mas também nas propagandas massivas da “terra que mana leite e mel” (Exodo 3:8) feitas pelo Governo Médici e desconsiderar a iniciativa de um pastor luterano no convencimento da partida dos primeiros gaúchos à região amazônica? E que submissão tão extrema é essa que foi e ainda é capaz de gerar tantos conflitos socioambientais na região? Josué, reduzir as questões religiosas à mera crendice é não levar em conta a influência que a Amazônia teve na própria mudança da orientação católica no Brasil, com o surgimento da Pastoral da Terra (Martins, 1994).
Ah, e por falar em influência, andam dizendo por aí que foi tu quem incentivou o desmatamento na Amazônia, para acabar com a fome e a pobreza da região. Como eu sou igual a São Tomé e só acredito vendo, fui dar uma lida nos teus escritos pra não chamar nenhum cabra de mentiroso sem ser. E acertei na veia! “Para melhorar as condições alimentares da área amazônica faz-se necessário todo um programa de transformações econômico-sociais na região. As soluções dos aspectos parciais do problema estão todas ligadas â solução geral de um método de COLONIZAÇÃO ADEQUADA à região.” (Castro, 1946, pg 102).
E esse tal de “gauchismo” repetido tantas vezes pela procuradora, que mais me parece uma reza?! Veio acompanhado de mais preconceito contra o povo nordestino, citado por ela como imigrantes no Pará que, entre outras dívidas absurdas que os faziam ficar presos naquelas terras até uma ilusória quitação, precisavam manter seu “gosto pela bebida”. E como se não bastasse a discriminação feita, indistinguiu aquela gente ao exemplificar sua descoberta de trabalho escravo na construção de um shopping em Porto Alegre, através da identificação de trabalhadores de “caras todas iguais, de rosto achatado e grandes orelhas, fotocópias de Sarney!” Pena que ela não vai encontrar num shopping perto de casa caras iguais a de Paulo Freire, Nisia Floresta, Francisco Julião ou a tua...
E por falar em Francisco Julião, hoje faz 12 anos da morte desse companheiro, líder das ligas camponesas em Pernambuco, militante da reforma agrária no Brasil (Martins, 1994). Tu não se lembrou da data? Aí não carece de calendários, eu sei. Por aqui as pessoas estão mais preocupadas com o aniversário de uma companhia aérea e suas passagens mais baratas.
É... parece que os fluxos migratórios mudaram, mas as promessas de ir a terra prometida continuam. Quem sabe, Josué, isso não resolva os problemas dos maranhenses? Segundo a procuradora, o problema desses trabalhadores, quando chegam à Amazônia e se deparam com a situação de trabalho escravo, é “falta de dinheiro para a passagem de volta ao Maranhão”. Estaria aí a solução? Reforma Aérea para todos então! Olha, me lembrei de tu de novo.
Açailândia, Amarante, Imperatriz foram cidades citadas no documentário nesse fluxo de homens e famílias para o sul do Pará. As mesmas cidades, na época de gravação do tal filme (entre 2006-2007), que no Maranhão sofreram, junto com Tocantins e Roraima, um surto de beribéri (carência nutricional de vitamina B1 causada, entre outros fatores, por dieta extremamente monótona). Na época, foram registrados 1207 casos e 40 óbitos na região, em sua maioria, de homens jovens, dessa doença tão absurda, antes só registrada por tu durante o ciclo da borracha na Região Amazônica (1870 e 1910).“Não posso, não posso” (=beribéri) era assim que os índios chamavam essa doença que lhe tirava até as forças vitais? Hoje, não sei se você tem acompanhado daí...
É, os jornais continuam não noticiando muita coisa... Mas nas últimas décadas, o desenvolvimento nessa região do Maranhão tem priorizado o desmatamento extenso com intensificação da plantação de eucalipto para atender mineradoras e madeireiras instaladas na área, além da agropecuária extensiva, em detrimento da produção de alimentos básicos, principalmente arroz, feijão, milho, mandioca e de frutos nativos como castanhas, babaçu e buriti (Lira; Andrade, 2008). As conseqüências são a desestruturação da economia local, ampliando a desigualdade social, comprometendo o meio ambiente e o acesso aos alimentos, além da qualidade de vida da população. Prato cheio pra uma nova Geografia da Fome, hein, Josué? Foi mal. Não vou te aperrear pra atualizar teus livros, até porque hoje o agronegócio tem feito o que quer em nossas fronteiras. Tu já teria dificuldade em desenhar um novo mapa.
Vixe Maria! Só falo de morte ou doença, Josué? Comemoremos então! Hoje é aniversário de Pablo Neruda. Vamos brindar! Com álcool não, por favor, pra não comentarem o “gosto de beber” nordestino, aqui produto social fermentado nas desigualdades e destilado a base da violência cometida àqueles peões de trecho no Pará e aos jovens desempregados do Maranhão. Tá certo, desisto. "Pai, afasta de mim este cálice!"
Me lembrei que no dia em que tu morreu no exílio, Neruda também batia as botas, de igual doença – tristeza – duas semanas depois do golpe militar no seu lar, o Chile. E por falar em lar, vou logo te dizendo que, se quiser responder essa carta, escreva meu endereço direitinho senão pode parar em alguma cidade brasileira colonizada nas fronteiras agrícolas como Porto Alegre do Norte e Porto dos Gaúchos (MT), Porto Alegre do Piauí, Rio Grande do Piauí (PI) ou Porto Alegre do Tocantins (TO). Um dia eu hei de entender um pouco mais da migração nessa região sem o tradicionalismo mítico da superioridade e bravura do sangue gaúcho, pioneiro e desbravador, que se reforça ainda mais frente aos estigmas negativos imputados a identidade nordestina (Haesbaert, 1998). Quando alguém me contar toda a resenha, eu te explico nos detalhes.
Como escreveu Frei Betto por esses dias (peço perdão pela minha crendice num frei): “Pena que o mundo acabou, a história findou e toda essa gente virou pó. Como teria sido importante o povo brasileiro ter direito à transparência histórica! Com certeza teria evitado que a nação repetisse tantos erros e reelegesse aqueles que distorceram os fatos e os encobriram para perpetuarem uma boa imagem que jamais mereceram.” Parece que os homens que escreveram e continuam escrevendo “nossa história”, a exemplo do Massacre dos Carajás, Corumbiara ou dos Porongos, têm sido meros lambe-botas de estancieiros e generais (Paulo Monteiro, 2010).
No mais, Josué, encurtando a prosa que eu sei que tu tá avexado, queria te avisar que já perdi a conta de quantos agricultores foram mortos nas últimas semanas na luta pela terra. E a lista de gente ameaçada é maior que a de animais em extinção na Amazônia. Espécimes raras! O último foi assassinado em nossas terras, Pernambuco.
"E agora, Josué? O filme acabou, a luz apagou, o povo sumiu e o debate esfriou? E agora, Josué?" Estarei presente na próxima sessão do ciclo de debates sobre conflitos agrários, pela promessa de uma discussão de qualidade sobre o tema para enfrentamento do problema. Espero também contar com a participação de mais colegas de pós-graduação e movimentos sociais para legitimação desse campo e ocupação do espaço no cinema que também nos é de direito.
P.S. Josué, tu deve de tá estranhando uma pernambucana te escrevendo das bandas do sul. Resolvi migrar pro Rio Grande para fazer meu doutorado em desenvolvimento rural, por falta de opção em virar modelo, ao contrário de um agricultor que a exma procuradora libertou, que ela disse ter vocação pras passarelas, de tão bonito que era, mas cujas mãos foram maltratadas pela enxada. O jeito é continuar no ofício, mas "se essa cerca durar mais um mês, vou embora para o Maranhão!"
Amália Leonel Nascimento
Nutricionista CRN-6 5545
Doutoranda PGDR/UFRGS
amalia.leonel@ufrgs.br
"Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta,
não há ninguém que explique e ninguém que não entenda."
Cecília Meireles
REFERÊNCIAS:
RAMPAZZO, Alexandre. Nas Terras do Bem-Virá. Brasil, 2007, 111min. http://www.youtube.com/watch?v=dhSFmz5-yn4&feature=related
MARTINS, José de S. O poder do atraso. São Paulo: Hucitec, 1994.
CASTRO, Josué de. Geografia da Fome. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1946.
HAESBAERT, Rogério. A noção de rede regional: reflexões a partir da migração “gaúcha” no Brasil. Revista Território, ano III, nº 4, jan./jun. 1998.
BETTO, Frei. Sigilo eterno. Brasil de Fato. 1º/07/2011
MONTEIRO, Paulo. O Massacre dos Porongos e Outras Histórias Gaúchas. Editora Berthier, 2010.
LIRA, Pedro I.C.; ANDRADE, Sonia L. L. S. Epidemia de beribéri no Maranhão, Brasil. Cad. Saúde Pública, RJ, v. 24, n. 6, jun. 2008.
CPTPE. Trabalhador assassinado em Cachoeira do IPA– Sertão de Pernambuco. 04 de Julho de 2011.
MÚSICAS: Meu caro amigo e Cálice (Chico Buarque), E agora, José? (Drummond) e Síndrome de Abstinência (Nei Lisboa)
sábado, 16 de julho de 2011
Encontro Quilombola, Negro e Popular no Quilombo da Família Silva
quarta-feira, 13 de julho de 2011
Responda a Marilene dos Santos, prefeito Fortunati
"Só pra variar um pouco" (como diz o dito popular), mais uma contradição (pegando bem leve) entre o discurso e a prática da Prefeitura de Porto Alegre:
Veja mais em Comitê Popular da Copa.
terça-feira, 12 de julho de 2011
Todas e Todos Contra a Opressão
Assista o vídeo produzido pelo Coletivo Catarse sobre a manifestação em apoio ao Assentamento Urbano Utopia e Luta que, pela segunda vez, foi alvo de ataques nazifascistas em Porto Alegre.
Aqui ninguém esconde o rosto. Somos todas e todos contra qualquer tipo de opressão:
segunda-feira, 11 de julho de 2011
O império de Teixeira e da Rede Globo
Ricardo Teixeira disse recentemente que está cagando para o que outros canais de informação estão falando dele. O imperador do futebol brasileiro afirmou que só vai se importar quando sair alguma coisa no Jornal Nacional.
Segue matéria de Paulo Henrique Amorin:
quarta-feira, 6 de julho de 2011
Utopia e luta contra o nazifascismo, o racismo, a opressão
A Comunidade Autônoma Utopia e Luta foi atacada, pela segunda vez, por nazifascistas. Rasgaram sua bandeira, picharam em sua porta símbolos que representam intolerância, violência e morte.
Neste vídeo, integrantes da comunidade contam e refletem sobre o que aconteceu:
Nesta sexta, 08 de julho, às 19h, uma grande manifestação acontecerá em frente ao prédio do Utopia e Luta contra toda forma de opressão, racismo, nazifascismo e discriminação:
Nota pública Utopia e Luta:
A intenção da Comunidade Autônoma Utopia e Luta nunca foi de criar embate com qualquer grupo político seja ele qual for.
Inclusive pensamos que o debate não deve ficar polarizado em nosso assentamento, as ameaças neo nazistas são contra a sociedade como um todo, visam um pensamento de morte e segregação, que nos leva apenas à violência.
Queremos apenas seguir o trabalho que viemos construindo há 6 anos desde a ocupação do prédio. Que é tocar uma padaria, serigrafia, teatro, lavanderia, costura e horta como ferramentas inclusivas diante as crises em todas a areas que afetam nossa sociedade.
Nossas pautas são positivas e não queremos lutar contra o sistema, mas construir um novo, mais solidário, justo e cooperativo, com a promoção da diversidade.
Não vemos motivações que levem ao ódio e ataque dos grupos neo nazistas, pois não somos comunistas, socialistas, anarquistas, não somos apenas negros, homossexuais, judeus, somos uma pluralidade de pessoas e famílias que buscam dignidade e autonomia através da autodeterminação.
Aos que criticam esta autonomia, visam apenas interesse de desqualificação, minimizando o fato ocorrido de segregação neo nazista, portanto os que desviam o assunto ao debate de nossa autonomia estão defendendo e acobertando os ataques discriminatórios, numa postura completamente desconectada diante da importância que estes ataques violentos vêm causando em Porto Alegre contra nossa sociedade.
Enfim, não estamos por guerra, este tempo já passou, pensamentos discriminatórios não tem mais vez, lutamos por diversidade, lutamos por outra economia de abundância e solidária, lutamos contra toda forma de opressão, lutamos por uma sociedade sem violência, seja ela capital, simbólica ou física.
Prosseguiremos com nosso trabalho sério e afirmativo sem aceitar provocações que apenas levam ao conflito desnecessário.
O combate contra os pensamentos neo nazistas devem ser feitos pelas autoridades e pela sociedade como um todo que é agredida constantemente por pensamentos fascistas e preconceituosos.
TODOS CONTRA A OPRESSÃO!
Mulheres do Campo e da Cidade se encontram por justiça e liberdade
Aconteceu no sábado, 02 de julho, o Encontro de Mulheres do Campo e da Cidade - Entre o poder da tortura e a tortura do poder. Organizado pela ONG Acesso, em parceria com a THEMIS e MST, o encontro se realizou no Centro de Formação Sepé Tiaraju, assentamento Filhos de Sepé, em Viamão, e foi patrocinado pela Comissão de Anistia, do Ministério da Justiça.
Estiveram presentes mulheres de diversas organizações sociais: MST, Movimento das Mulheres Camponesas, Resistência Popular, Mulheres da Paz (Guajuviras - Canoas), MTD, Levante da Juventude, SAJU, Acesso, THEMIS, Procuradoria de Canoas, CPT, Utopia e Luta, Renaap e Somos.
Entre as propostas do encontro, justamente reunir as militantes desses diversos movimentos para debaterem, através do recorte da justiça de transição, o papel da mulher na luta por direitos e na efetivação da democracia e liberdade, diante da nossa redemocratização inacabada:
segunda-feira, 4 de julho de 2011
Ciclo de Debates Sobre Conflitos Agrários - Nas Terras do Bem-Virá
Sinopse do filme: Um dos documentários mais completos para se entender a questão dos conflitos agrários no Brasil. Trabalhadores sem opção de sobrevivência em seus estados partem para a Amazônia, no Pará, para trabalhar nas fazendas iludidos pelo sonho de se poder conseguir o sustento de suas famílias. Mas a realidade é outra, grande parte não volta mais, torna-se um contingente de trabalhadores escravos, inseridos em um ciclo vicioso de trabalho e dívida com seu patrão. Após serem explorados durante décadas, muitos tornam-se indigentes. Muitos dos que tentam escapar desse sistema, são assassinados. O chamado "Agronegócio" do latifúndio está quase sempre associado a diversas práticas nocivas a sociedade e ao planeta: quase todas as fazendas da região são produtos da grilagem, ou seja, são terras da União que de alguma forma foram fraudadas em nome de alguém; os pistoleiros, quando não a polícia do Estado, promovem a "limpeza" humana das áreas, ameaçando, assassinando os colonos que lá antes habitavam. Esse modelo está ligado a derrubada de florestas, extinção de espécies, queimadas, contaminação dos recursos hídricos, a concentração de terras e de renda. Para fazer frente a isso, surgem os grupos sociais, como o Movimento dos Sem Terra, a Pastoral da Terra e personalidades internacionais, como Dorothy Stang, que enfrentam o poder dos fazendeiros, políticos corruptos, assassinos e a mídia tradicional (Fonte: http://docverdade.blogspot.com/2010/01/nas-terras-do-bem-vira-2007.html - Trailler: http://www.youtube.com/watch?v=dhSFmz5-yn4&feature=related
Contexto e Justificativa: Embora os processos e formas de expropriação a que estão submetidos grupos subalternos que vivem nas áreas rurais do país possam variar e se transformar ao longo do tempo, historicamente, a realidade brasileira tem sido marcada por inúmeros conflitos agrários, concentração da terra e violências de toda ordem cometidas contra trabalhadores rurais, agricultores pobres, posseiros e populações tradicionais. Por trás destes fenômenos encontra-se o avanço das chamadas “frentes de expansão”, cujo agente pioneiro na fronteira agrícola costuma ser, desde a Lei de Terras de 1850, a grilagem de terras. Tais frentes, ao integrarem regiões aos circuitos capitalistas de produção sem que haja a inserção efetiva do Estado presente enquanto agente garantidor de direitos, além de desestruturarem modos de vida tradicionais e regras costumeiras, por vezes, seculares, trazem consigo uma série de efeitos sociais e econômicos perversos para as populações locais, bem como a destruição de ecossistemas e parte dos biomas aos quais se acham associados.
Especificamente no caso das situações de violência no campo, segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CANUTO et al., 2009), só no ano de 2009 ocorreram 25 assassinatos envolvendo algum tipo de conflito agrário no país (no Rio Grande do Sul, o agricultor sem-terra Elton Brum faz parte desta estatística, morto pela Brigada Militar durante manifestação do Movimento Sem-Terra numa fazenda em São Gabriel). A mesma CPT aponta que, neste mesmo ano, foram registradas 9.031 famílias ameaçadas pela ação de pistoleiros, sendo que a isto se somam inúmeros casos de fazendas onde são cotidianamente encontradas pessoas vivendo em regime de trabalho escravo. Submetidas a condições desumanas de trabalho e a alguma forma de exploração por dívida (sendo a mais conhecida delas o “sistema de barracão”), dados do Ministério do Trabalho (http://www.mte.gov.br/fisca_trab/quadro_resumo_1995_2010.pdf) revelam que, entre 1995 e 2010, cerca de 39.200 trabalhadores foram resgatados pelo “Grupo Móvel de Fiscalização Móvel”.
Paralelamente a isto, assiste-se atualmente a um revigoramento do modelo desenvolvimentista inaugurado nos anos 1970 com os governos militares, o qual investe no financiamento de grandes projetos agropecuários e de infra-estrutura (mineração, barragens, estradas, ferrovias etc.). A despeito de supostos benefícios que possam trazer ao país, fato é que tais empreendimentos têm desencadeado sérios conflitos envolvendo a expulsão de agricultores de suas terras, confrontos (por vezes, genocídios) entre empresas públicas ou privadas e várias etnias indígenas, além de migrações em massa (em Rondônia, por exemplo, o consórcio encarregado de construir a hidrelétrica de Jirau, que recentemente esteve na mídia por conta de manifestações envolvendo seus empregados, mantém em seu canteiro de obras cerca de 22 mil trabalhadores, a maioria deles trazidos da região Nordeste).
Por sua vez, este incremento no número de conflitos, espoliação, desmatamento e violência se insere num contexto nacional de invisibilidade dos movimentos sociais e de suas demandas, cujas organizações, associações e sindicatos tem sido alvo de uma preocupante a crescente criminalização tanto parte da dita grande mídia como por setores dos Poderes Legislativo e Judiciário.
É dentro deste contexto que se insere o documentário Nas Terras do Bem-Virá, o qual traz à tona tais questões. Deste modo, considerando a premência se discutir temas como os acima citados (entre eles: conflitos agrários, violência no campo, concentração fundiária, expansão da fronteira agrícola, trabalho escravo e destruição de recursos naturais) e da urgência de torná-los visíveis enquanto problemas socialmente relevantes, a apresentação e o debate qualificado deste filme e dos processos que ele aborda seria uma oportunidade essencial para que não só a comunidade universitária, mas a sociedade de Porto Alegre como um todo, possa ter acesso e participar ativamente de tais discussões.
Ficha técnica:
Diretor: Alexandre Rampazzo
Brasil: 2007, 111min.
Produtora: Tatiana Polastri
Empresa produtora: Varal Filmes
Roteiro: Alexandre Rampazzo e Tatiana Polastri
Diretores de fotografia: Fernando Dourado e Alexandre Rampazzo
Montagem: Fernando Dourado
Música: Nanah Correia, Julian Tirado e João Ba
Prêmios:
- It’s All True – Festival Internacional de Documentários – Brasil – Menção honrosa
- Festival dos Três Continentes – Venezuela – Prêmio de melhor filme
- Mostra Etnográfica da Amazônia – Brasil – Prêmio de melhor filme
- Mostra Contra o Silê ncio de Todas as Vozes - México – Menção Honrosa
- Prêmio "Luta Pela Terra" - janeiro de 2009 - concedido nos 25 anos do MST - Sarandi-RS
- Mostra FICA – Brasil
- XXIII Festival de Inverno da Chapada dos Guimarães – Brasil
- Mostra do Audiovisual Paulista – Brasil
Divulgação: Cleyton Gerhardt (Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural - PGDR -, Universidade Federal do Rio Grande do Sul)