quinta-feira, 24 de maio de 2012

EstamOs ocUpando o Largo Glênio Peres, durante todo o dia! É a feSta da BiOdiveRSidade!

São cerca de 40 coletivos que organizam essa feSta e muitos outros que participam, propondo atividades ou simplesmente comparecendo no Largo.

É uma feSta para comemorar a LUta. As diversas lutas protagonizadas por movimentos sociais, coletivos, comunidades, que se reúnem uma vez por ano para convergir pautas, estreitar laços e dialogar com a população da capital. É também um espaço de denúncia do capital e dos governos, que há alguns anos vem escorraçando a população dos espaços púbicos.

Em Porto Alegre temos sentido na pele a privatização dos espaços públicos, que é apenas uma das facetas estratégicas do capitalismo. No centro da cidade, essa reclamação ecoa! Começou com o Gasômetro, que foi “adotado” pela gatorade (by coca-cola company), que fez das bancas outdoors, impondo suas propagandas, ao mesmo tempo em que a Prefeitura passou a permitir o acesso dos carros à Orla, que também ali roubam o lugar das pessoas e da cultura pública. Na pracinha do gasômetro está sendo construído um estacionamento, afinal para quê espaço para a sociabilidade? Mas não somos carros! A associação de moradores tem tentado transformar esse plano, mas a suspeita é que seja tarde demais. Estacionamentos virou mania da Prefeitura, que tem transformado vários espaços ocupados pela população em estacionamento, como no caso do antigo camelódromo.

Seguindo pela Rua da Praia, logo chegamos ao Largo Glênio Peres, que foi privatizado por uma Parceria Público e Privado (as PPPs) firmadas entre a Prefeitura e a Coca-Cola (de novo!). Por acaso, depois dessa “adoção” do Largo, se fez uma lei para proibir o seu uso. Nesse ano, mais uma vez, quase tivemos a proibição da feSta da BIOdiveRSidade. Muitas feiras como da Economia Solidária e do Pêssego foram proibidas no Largo, que agora vai ganhar mais um chafariz, que afinal é bem melhor do que qualquer manifestação política ou cultural. O grupo de teatro de Rua Levanta Favela conta da dificuldade que tem enfrentado para realizar suas peças pelas ruas da capital gaúcha, que muito se orgulha de sua forte veia artística. Teatro só pras elites e de preferência que não promova muita reflexão sobre a realidade e, por favor, que não fale de política e cultura, ainda mais no período da Copa do Mundo e de eleições. O espaço do Largo foi apropriado pela FIFA para a Fanfest, que será o ÚNICO local da cidade autorizado a transmitir os jogos da copa de 2014, ou seja, se você curtia ver seu jogo de futebol no boteco com seus amigos, se ferrou… na Copa ou é na FAnfest ou verá os resultados das partidas nos jornais!



Dali até a Redenção, um belíssimo parque, que a prefeitura tem dedicado esforços para precarizar, validando a ideia de que o que é publico não funciona, sendo eficiente só a iniciativa privada, na velha tentativa do Estado Mínimo. Afinal, se fica mal cuidado, se justifica a necessidade da parceria privada, que viria arrumar o que a própria prefeitura estragou. E lá venderam para a Pepsi (que também é cola!) que além da publicidade, não passaram sequer uma vassoura. Eles não irão descansar enquanto não cercarem aquilo tudo, para poder cobrar uma entrada, que vai nos proporcionar, na melhor das hipóteses, o mesmo parque que temos hoje, mas aí com grades e com receita (que vai pro bolso de alguém). Assim também aconteceu com o Araújo Viana, que fica dentro da Redenção, que depois de um projeto mal sucedido que demandou uma reforma e mais custos, foi “adotado” e será gerenciado pela Coca-Cola (mais uma vez!) e como não poderia faltar, fizeram ali mais um estacionamento…

Assim todas as feiras, que foram conquista dos agricultores e consumidores da capital, foram sem explicação apropriadas pela Maggi e Gatorade, conhecidas pelo fomento da alimentação industrializada, comprometendo a saúde da população com coquetéis químicos, que desconhecemos suas reações em longo prazo e com a ajuda da criminalização da produção da agroindústria familiar, através da vigilância sanitária e padrões internacionais que homogenizam as formas de produção, e que nada tem a ver com agroecologia ou agricultura familiar.

E o Largo Zumbi dos Palmares? Espaço aberto propício para  a realização de grandes eventos ou atividades como a capoeira e a roda de samba. Mas grupos de Capoeira têm relatado uma série de situações onde a polícia militar aborda os capoeiristas, verifica a ficha corrida das pessoas, constrangendo-as, alegando que aquele espaço não é para fazer barulho. Essa prática era realizada no surgimento da capoeira, buscando a criminalização dos escravos. Será mera coincidência?

E então chegamos à zona rural de Porto Alegre, onde áreas produtivas estão sendo transformadas em condomínios de luxo, vendidos com o rótulo de “verdes”, alterando completamente a paisagem em áreas de até quatro milhões de metros quadrados. Isso força a saída dos pequenos agricultores, que não tem como competir com a exorbitância do valor da terra, produzido pela especulação imobiliária. Isso também afeta as poucas áreas de ambiente natural, ricas em biodiversidade e nascentes, ainda presentes em uma capital.

Também pode ser coincidência o “cala-boca cidade baixa” que tem sido promovido pela prefeitura, exatamente no mesmo momento em que se discute a privatização da Orla do Guaíba. Existem relatos de estabelecimentos que foram autuados por não terem alvará (que não tem sido liberado há muitos anos pela prefeitura) e que receberam uma proposta de se transferirem para a orla, nesse caso recebendo o tão batalhado alvará, mas tendo que se comprometer a vender o ponto e não retornar a cidade baixa pelos próximos dez anos. Aí, podemos ver a lógica do livre mercado, que livra os seus compadres e ferra com a maioria. A privatização da Orla contou com a desculpa da Copa do Mundo, que além de faturar com estádios, irá vender casas com as melhores vistas para gente rica, doar extensas áreas públicas para a iniciativa privada e remover milhares de famílias de seus bairros de origem. Ter que tirar os moradores, que vivem lá há trinta, quarenta anos ou muito mais. Mas gente pobre não tem direito. E afinal quem tem direito? O que é direito? E para quem? E afinal, a cidade é para quem?

Essas são apenas algumas histórias. Existem muitas outras que ainda não foram contadas. Venha contar a sua hoje, no Glênio Peres… Afinal, onde aperta o seu sapato?


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