A paisagem que se vê é interessante. Uma urbanização meio desajeitada. Às margens de rios e morros, cidades florescem e sua dinâmica é um tanto bagunçada, com carros para todos os lados. É o caminho de Blumenau a Presidente Getúlio. A primeira cidade, uma das maiores do estado de Santa Catarina. E, no meio, passa-se por Ibirama, cidade média, mas com cara de pequena.
À medida que o conurbado de Blumenau se dilui em propriedades com quintais, elas aparecem. Não em unidades, mas em dúzias. Em alguns jardins elas são mais de 50, 100 palmeiras. Os quilômetros que se seguem de Ibirama a Presidente Getúlio apresentam uma interessante simbiose entre a cidade e a mata. Destroi-se para construir, mas constroi-se repovoando-se uma espécie.
O carro para, faz o contorno, entra em uma rua de chão, ao pé de um morro, de onde se vê uma casa com uma "linha" de palmeiras à frente e um capão aos fundos. A imagem vale algumas fotos.
- Olá, estamos em um projeto sobre essas palmeiras que você tem aqui na frente. Será que a gente poderia tirar...
- Não! Não pode tirar nada! Isso é para os pássaros, para os tucanos!
- Não, minha senhora. A gente quer é tirar fotos...
A estética e a companhia de pássaros é a resposta mais frequente que se encontra quando se vai conversar com os donos de quintais recheados de Juçara. E é nesse contexto que a CEMEAR, instituição integrante da Rede Juçara, procura trabalhar a conscientização local, informando sobre esta espécie nativa da Mata Atlântica e colhendo - não tudo - os frutos daquelas árvores para transformar bagas em polpa de fruta com alto valor nutricional. "Nos quintais é mais fácil" - afirma Jaciel, um dos técnicos da CEMEAR.
Mas o trabalho deles não se restringe à cidade, onde é importante, sim, procurar manter essa espécie de simbiose entre cidade e mato, ele vai também para as regiões rurais do entorno da sede de Presidente Getúlio, trabalhando-se o manejo agroflorestal, que vai desde a plantação de áreas de Juçara mesclada com outras espécies nativas até o consórcio com espécies de abelhas nativas, agente fundamental para a polinização da flora local. Na propriedade do Seu Lindomar já são centenas de palmeiras plantadas e dezenas de caixas de abelhas, onde já se pode ver pelo chão a quantidade de novas árvores que vêm surgindo e que povoarão de maneira sustentável aquela área - gerando trabalho e renda para sua família, sem a necessidade de que eles assumam a cultura tradicional local do fumo.
Abaixo seguem dois trechos de entrevista sobre a recuperação local que se consegue implementando-se o manejo da Juçara em pequenas propriedades, neste caso, uma em Dom Pedro de Alcântara, Rio Grande do Sul, outra em Presidente Getúlio, Santa Catarina, ambas nas adjacências da Mata Atlântica.
Este material, juntamente com o que está sendo produzido neste mês de maio e princípios de junho, faz parte do que virá a ser a revista da Rede Juçara. Texto, fotos e imagens de Gustavo Türck (Coletivo Catarse).
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