Na última terça-feira (10.5), na CaSaNaT, enquanto se aguardava o começo da reunião dos coletivos que estão organizando a 5ª Semana da biOdiveRSidade, conversamos rapidamente com três pessoas que são fundamentais nesse processo desde o seu começo. Ana Paula de Carli (do CaSatieRRa), Bruna Engel (do Núcleo Amigos da Terra) e Fernando Campos Costa (o Fernandão, que integra os dois grupos) falaram sobre o porquê acreditam que a Festa é um momento tão especial do ano para os movimentos contra-hegemônicos, que trabalham para construir o mundo justo e solidário que todos sonham, mas que ainda poucos ousam viver.
Ana: A gente vive falando sobre rede. Hoje em dia, mais do que nunca a gente atua em rede, mas sem encontros não se fortalecem as redes. Tem muitos grupos que não se conhecem, muitos pontos da rede que não estão conectados. Então, a Festa é um espaço pra esses coletivos se conectarem, se conhecerem, trocarem ideias e ver o que o outro faz, que é o mais importante. E ver que não é tão diferente, não é tão distante do que se está fazendo também, só que de outro jeito.
Fernandão: Mostra, às vezes, a coisa da gente ter na prática muito mais identidade e consenso do que quando fica discutindo. A Festa é um espaço que criamos para nós. Uma coisa que a gente está fazendo aqui, com pessoal daqui, sem partido, sem governo, sem empresa. A gente se identificando com a sociedade civil e intervindo num espaço que consideramos especial, que é o largo Glênio Peres, porque é onde o trabalhador de Porto Alegre está circulando. É super importante poder dialogar entre classes e ter discussões entre movimentos e grupos, e poder nesse momento ter uma prática desse discurso. A gente ouvir o que as pessoas estão vendo na cidade, as angústias das pessoas porque elas não têm com quem conversar. É ouvir realmente o olhar da sociedade civil. Como é que se ouve as pessoas que estão passando por ali? Dali, a gente pode tirar algumas ideias, contribuições, algumas formas de explicar as coisas porque, às vezes, ou por termos da técnica ou acadêmicos, a gente fica com uma linguagem que só a gente entende. Ali, vamos botar à prova o nosso discurso, como é que a gente consegue conversar com pessoas que estão o dia inteiro trabalhando nesse dia a dia, sem ter tempo pra fazer uma formação, se engajar em algum movimento. Que a Festa possa ser uma porta, uma janela para que possam acessar outras coisas e a gente acessar as pessoas também.
Ana: Além disso, é um espaço pras pessoas conhecerem os grupos dessa nova geração política que está surgindo em Porto Alegre, que está fazendo um outro tipo de política e que normalmente não se conhece, não aparece em lugar algum, não tem visibilidade.
Fernandão: A nossa geração vem empurrando a geração da frente (que está nos espaços), dizendo que a gente tem uma política, vê as coisas de uma forma diferente, às vezes. E a gente coloca isso em xeque: quer ocupar os espaços, quer dialogar politicamente com as pautas que temos no dia a dia. A Feira serve pra gente se encontrar uma vez por ano, pra poder acertar esses pontos e ver também como evoluiu nesses cinco anos, com grupos que hoje trabalham no dia a dia juntos. Hoje tem grupos que estão unidos e trabalhando juntos com pautas conjuntas, com alinhamentos políticos conjuntos e que se encontraram por causa da Festa. E cada ano é uma possibilidade de conhecer outros grupos, de criar não só esse momento, esse evento, mas esse processo. É colocar na prática todo o discurso do Fórum (Fórum Social Mundial), e que a gente tem colocado no processo do nosso cotidiano aqui em Porto Alegre. É como se relaciona, como a gente realmente transforma esse movimento num processo.
Bruna: Uma coisa muito legal que aconteceu esse ano foi os encontros itinerantes de organização da Festa (que são semanais). Desde a primeira reunião as pessoas tem se encontrado nas sedes dos coletivos. Além de estar abrindo hoje as portas da Casa NAT pro pessoal da Festa da Biodiversidade, este é um espaço de resistência na cidade, como também são os espaços de outros coletivos que estão aqui. É importante essa visibilidade e, todo mundo que está na organização da Festa se sentir acolhido nos espaços que a gente tem se reunido.
Fernandão: Terá uma banca das comunidades afetadas pela Copa (de 2014), que virão ocupar um espaço na Feira. E outros temas como código florestal, a campanha contra os agrotóxicos, a defesa da zona rural de Porto Alegre, a agroecologia… Então, esse tema da soberania alimentar na cidade, dentro de todo o seu contexto, e o das pessoas que estão sofrendo algum impacto por causa das obras da Copa, e que estão reivindicando seus direitos, são assuntos importantes de debate e que também vão estar na Feira.
As fotos são da Feira em 2010.
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